O que se passa no Jardim Botânico? A pergunta deu nome a uma tertúlia que decorreu ontem no Centro Nacional de Cultura em Lisboa. Para os intervenientes a questão é fulcral, pois nem todos sabem bem para que serve ou o que se está a passar nesta zona verde da capital. A Liga dos Amigos do Jardim Botânico acha que merece ser esclarecido que alterações no local podem trazer consequências físicas ao vale da Avenida da Liberdade e Baixa Pombalina.
«Se o plano de requalificação do Parque Mayer avançar no futuro podemos assistir a cheias mais frequentes na baixa. Isto porque a Avenida da Liberdade está situada num vale e na colina da Cotovia a água é escoada pelo jardim. Da mesma forma, o jardim condiciona as brisas que escoam a poluição do vale da avenida», explicou Margarida Cancela D’Abreu, Presidente da Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas.
A opinião foi corroborada por Gonçalo Ribeiro Telles, arquiteto e antigo ministro e secretário de Estado do Ambiente. Ele que já em 1967, aquando das cheias de Lisboa, impôs-se publicamente contra as políticas de urbanização vigentes. «Com a construção nos terrenos do Parque Mayer, sendo que os novos edifícios costumam ser feitos com vários metros subterrâneos, vai haver um problema de drenagem subterrânea das águas que vão para o rio Tejo. As construções impedem a circulação de água e ar», acrescentou dando como exemplo o vale da Ribeira de Alcântara, onde há uns anos houve afundamento de estrada.
Plano do Parque Mayer ilegal?
Durante o debate, numa sala repleta de interessados, criou-se alguma polémica com a declaração de Ana Paula Amendoeira, representante da secção portuguesa do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, o ICOMOS, devido ao facto de o Jardim Botânico ter recebido em 2010 a distinção como Monumento Nacional.
«O Plano de Pormenor do Parque Mayer é ilegal porque não respeitou a distinção do Jardim como Monumento Nacional. A partir do momento em que se soube que o jardim poderia integrar essa zona, a lei indica que o Plano se Salvaguarda se impõe ao Plano de Reabilitação urbana. A Câmara Municipal não cumpriu a lei, por isso o plano está repleto de ilegalidades», disse Ana Paula Amendoeira.
A declaração motivou resposta por parte de um arquiteto paisagista que estava na audiência e que fez parte do projeto do plano de pormenor. «Não houve nenhuma ilegalidade no plano. Há estudos desde os anos 40 para se pedir classificação como monumento nacional e se esta distinção tivesse sido dada há tanto tempo provavelmente agora já não a tinha. É preciso responsabilidade para manter o jardim. O plano procura fazer com que o jardim participe na revigoração da cidade», argumentou.
«Como foi possível que não tivessem tido em atenção o plano de salvaguarda? Este só termina a oito de agosto de 2012. Tudo o que se fez até lá foi contra a lei», disse a representante do ICOMOS.
À procura de uma solução
O reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, entidade responsável pelo jardim, fez-se representar na sessão transmitindo um apelo: «Se alguém tiver uma solução para o financiamento do jardim, o meu gabinete está aberto para o receber. Queremos construir um caminho para o jardim que possa ser trilhado e encontrar uma solução». in Jornal A Bola, 16 de Janeiro de 2012
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