domingo, 3 de outubro de 2010

O Debate “Jardim Botânico do Futuro” – Mais uma Requalificação Para Pior?

No segui­mento dos tex­tos rela­ti­vos às “Jor­na­das Euro­peias do Patri­mó­nio 2010″, e depois de ter­mos dado conta de como cor­reu a visita ao Jar­dim Botâ­nico da Uni­ver­si­dade de Lis­boa (JBUL), no pas­sado dia 25, apre­sen­ta­mos aqui algu­mas notas sobre o debate que lhe sucedeu. Este debate, orga­ni­zado pela Liga dos Ami­gos do Jar­dim Botâ­nico (LAJB) e pela Asso­ci­a­ção Por­tu­guesa de Arqui­tec­tos Pai­sa­gis­tas (APAP), visava apre­sen­tar alguns dos pro­ble­mas que, actu­al­mente, afec­tam o JB, bem como aque­les que pode­rão vir a pre­ju­di­car gra­ve­mente este espaço se a actual pro­posta do Plano de Por­me­nor do Par­que Mayer (PPPM) for aprovada.

A mesa teve como mode­ra­dora a Dr.ª Luísa Sch­midt (Ins­ti­tuto de Ciên­cias Soci­ais da Uni­ver­si­dade de Lis­boa) e con­tou com apre­sen­ta­ções do Arqt.º Gon­çalo Ribeiro Tel­les, da Arqt.ª Manu­ela Raposo Maga­lhães (Cen­tro de Estu­dos de Arqui­tec­tura Pai­sa­gista “Pro­fes­sor Cal­deira Cabral – Ins­ti­tuto Supe­rior de Agro­no­mia) e da Dr.ª Manu­ela Cor­reia (pre­si­dente da LAJB), bem como com a pre­sença da Arqt.ª Mar­ga­rida Sá Abreu (pre­si­dente da APAP).

As apre­sen­ta­ções mos­tra­ram de que forma o PPPM irá pre­ju­di­car o jar­dim. Os prin­ci­pais pro­ble­mas relacionam-se com a cir­cu­la­ção do ar na encosta (e con­se­quente alte­ra­ção da termo regu­la­ção), com as dre­na­gens sub­ter­râ­nea e super­fi­cial de águas plu­vi­ais e com toda a hidro­ge­o­lo­gia da zona. Foi, inclu­si­va­mente, feita a apre­ci­a­ção do estudo hidro­ge­o­ló­gico cons­tante da Ava­li­a­ção de Impacto, o qual foi con­si­de­rado mani­fes­ta­mente incom­pleto e insu­fi­ci­ente. Refira-se que o dito estudo, no que refere à real aná­lise da área, ape­nas lhe dedica menos de duas pági­nas, reme­tendo para outros estu­dos ante­ri­o­res, tam­bém eles inconclusivos.

O PPPM deverá entrar em dis­cus­são pública a qual­quer momento. Embora, apa­ren­te­mente, este plano não pre­veja a cons­tru­ção de pré­dios com altura supe­rior à cerca pom­ba­lina do jar­dim, estes deve­rão ficar con­tí­guos a esta e pos­sui­rão esta­ci­o­na­men­tos com três anda­res sub­ter­râ­neos. Para além disso, prevê-se a ocu­pa­ção e/ou des­trui­ção de algu­mas áreas e equi­pa­men­tos do JB, como por exem­plo o viveiro. Aguarda-se, ainda, que a ver­são defi­ni­tiva do plano seja dis­po­ni­bi­li­zada pela Câmara Muni­ci­pal de Lis­boa (CML).

A LAJB acres­centa que o jar­dim ficará iso­lado do con­ti­nuum verde da cidade, lamen­tando que o Rei­tor da Uni­ver­si­dade de Lis­boa (UL), ao dar o seu apoio a este plano, “tenha mani­fes­tado uma ati­tude tão ultra­pas­sada e afas­tada da ciência”.

Sublinhe-se que este debate tam­bém se des­ta­cou por algu­mas ilus­tres ausên­cias ou silên­cios, uma vez que várias per­so­na­li­da­des tinham sido con­vi­da­das a par­ti­ci­par e dar o seu con­tri­buto. Entre elas, contam-se a CML [estiveram presentes três Deputados Municipais: Partido Comunista Português, Partido os Verdes e Movimento Cidadãos por Lisboa], suces­si­vos direc­to­res do JB, a UL, repre­sen­tan­tes do poder polí­tico e de órgãos públi­cos. Tam­bém a comu­ni­ca­ção social, mais uma vez, pri­mou pela ausência [esteve presente um jornalista da RTP].

Final­mente, refira-se o jar­dim está pro­posto para clas­si­fi­ca­ção como Monu­mento Naci­o­nal há cerca de 40 anos, con­ti­nu­ando à espera de pare­cer do IGESPAR (e das ins­ti­tui­ções que o precederam).

A Asso­ci­a­ção Árvo­res de Por­tu­gal apoia e tem cola­bo­rado, na medida do pos­sí­vel, nos esfor­ços que estão a ser fei­tos para pre­ser­var e melho­rar sig­ni­fi­ca­ti­va­mente as con­di­ções do JBUL. Pre­ten­de­mos que o jar­dim possa con­ti­nuar a ser um local de grande diver­si­dade bio­ló­gica de valor incal­cu­lá­vel e carac­te­rís­ti­cas únicas, um monu­mento his­tó­rico incon­tor­ná­vel e um espaço de bem-estar e fac­tor de qua­li­dade de vida, não só dos lis­bo­e­tas, mas tam­bém de todos aque­les que o visitam.

Miguel Rodrigues

4 comentários:

HORDERLIM disse...

Existem algumas incorrecções neste texto. A saber: estiveram presentes deputados municipais da CML, de alguns dos partidos aí representados.Esteve também presente um jornalista da RTP. Contudo é de lamentar que outros partidos directamente implicados neste PP, nomeadamente o Partido Socialista, a UL, os Ministérios da Ciência, Cultura e do Ambiente e o Arquitecto Aires Mateus, tivessem primado pela ausência. Cobertura jornalística nula.

Amigos do Jardim Botânico disse...

Obrigado pelo alerta que já tinhamos tomado nota.

De facto estiveram presentes três Deputados Municipais:

Partido Comunista Português

Partido os Verdes

Movimento Cidadãos por Lisboa

Em relação à comu­ni­ca­ção social, pelo que sabemos, esteve presente apenas um jornalista da RTP.

Miguel Rodrigues disse...

Obrigado pela correcção.

Acabo de acrescentar uma adenda ao texto referindo estas informações.

Anónimo disse...

Foi um prazer visitar o seu lindo blog.
Quando estive em Portugal, há muitos anos,tive a alegria de visitar o Jardim Botânico de Lisboa e do Porto,ambos belíssimos.
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