sexta-feira, 10 de julho de 2009

O exemplo do PARQUE DE SERRALVES - II

QUINTA DO LORDELO E QUINTA DO MATA-SETE (ATÉ 1925)

Provavelmente desenhado por um dos viveiristas da cidade, e inspirado nos modelos victorianos de final de oitocentos, o jardim da Quinta do Lordelo apresentava um primeiro núcleo que se desenvolvia nas traseiras da casa com canteiros de formas orgânicas enriquecidos por espécies ornamentais, ao gosto da época. Este jardim culminava, a Sul, numa balaustrada que olhava de cima o lago de contornos orgânicos onde uma ilha central, à qual se ligava uma ponte, e um pequeno pavilhão denotavam o gosto pelo exótico, característico do período. Com uma área significativamente menor do que a presente, a propriedade seria a sucessivamente ampliada pelo Conde de Vizela com a aquisição de terrenos adjacentes, num processo de compras que se prolongaria até aos anos 40, atingindo os actuais 18 hectares.

A Quinta do Mata-Sete, também propriedade da família e herdada pelo irmão do Conde de Vizela, é integrada nesta ampliação por permuta com propriedades urbanas. Na altura da sua inclusão era já caracterizada por estruturas edificadas – pavilhão de caça, celeiro, lagar e casa dos caseiros – informadas por uma idealização da vida rural.

O JARDIM DA CASA DE SERRALVES (1925 A 1950)

Após uma visita, em 1925, à Exposition Internationale de Arts Décoratifs et Industriels Modernes, em Paris, Carlos Alberto Cabral decide intervir na quinta, no âmbito da reformulação da residência, convidando o arquitecto Jacques Gréber a desenhar um novo jardim. O projecto, cujos desenhos conhecidos datam de Agosto de 1932, é caracterizado por um classicismo modernizado, suavemente Déco, influenciado pelos jardins franceses dos séculos XVI e XVII, integrando e adaptando alguns elementos do jardim original, nomeadamente o lago, bem como estruturas agrícolas e de rega das propriedades entretanto em aquisição. Caracterizado por uma estrutura formal geometrizada de composição simétrica e rectilínea, inclui lugares de traçado organicista igualmente geometrizado.

Considerado em Portugal um dos primeiros exemplos da arte do jardim da primeira metade século XX, o jardim de Serralves projectado por Jacques Gréber terá sido o único construído nesse período por um privado, em Portugal, a partir de um projecto de arquitectura de paisagem. Os desenhos de Gréber em posse da Fundação de Serralves não incluem a totalidade da propriedade que hoje conhecemos, e que estava ainda em expansão. Com efeito, terminam a Sul no actual Passeio da Levada e a Poente no Roseiral, pelo que a autoria, ou autorias, dos traçados para além destes limites não pode ser afirmada com precisão. No entanto, e em particular no desenho de um tanque e espaços envolventes na extremidade Sul, pode ser reconhecido um traço idêntico ao do restante projecto de Gréber.

Desenvolvido a partir da Casa, o novo jardim ordena-se a partir de dois eixos perpendiculares entre si. O eixo principal estrutura-se sensivelmente de Norte a Sul na direcção do Rio Douro, ao longo de 500 metros, e é caracterizado por um Parterre d'eau em vários níveis, com planos de água comunicantes, flanqueados por relvados e maciços arbustivos, que parte do grande terraço fronteiro à residência e se estende para além do lago, concluindo-se a Sul já na Quinta do Mata-Sete. No outro eixo, uma álea de Liquidâmbares liga a residência à Marechal Gomes da Costa desembocando perpendicularmente a esta artéria através de uma inflexão no seu percurso. Paralelo a este, a Norte, o parterre lateral constitui-se como extensão da sala de estar da residência. Numa cota inferior, a Sul da álea, encontra-se o Jardim do Relógio de Sol e o Roseiral (originalmente projectado como Jardin Potager) que se abrem sobre o Court de Ténis com pavilhão de apoio. Este último, uma estrutura que faz a sua aparição nos jardins desta época, em resultado do entendimento do desporto como factor de bem-estar bem como de oportunidade social.

A Mata alberga o Lago da Quinta do Lordelo, adaptado e acrescido de um grotto que serve simultaneamente de embarcadouro, bem como estruturas agrícolas de armazenamento e condução de água para a rega. Na Quinta do Mata-Sete encontram-se campos agrícolas com folhas de cultivo e pastoreio, atravessadas pela parte Sul do eixo desenhado a partir da Casa, que culmina num tanque. Esta parte Sul do percurso, bem como o próprio tanque, encontrava-se ladeada de Ciprestes e sebes topiadas.

Nota: texto retirado de http://www.serralves.pt/

Sem comentários: