quarta-feira, 30 de julho de 2008

Carta ao Presidente da C.M.L.: Demolição e Construção Nova no Largo do Rato


Exmo. Presidente Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa,

A Liga dos Amigos do Jardim Botânico (LAJB) da Universidade de Lisboa vem por este meio manifestar a sua total oposição ao projecto de demolição e construção nova no gaveto formado pelo Largo do Rato / Rua do Salitre / Rua Alexandre Herculano.

A construção deste novo edifício vai implicar a demolição de dois imóveis que já existem no local e que fazem parte da memória colectiva da cidade. Chamamos atenção para o facto do novo edifício que se pretende erguer se situar numa zona de grande riqueza patrimonial. Assim, e para além da própria imagem urbana consolidada do Largo do Rato que importa preservar, na envolvência deste local já existem os seguintes imóveis classificados:

-Aqueduto das Águas Livres e Mãe de Água, incluindo o Chafariz do Rato (Monumento Nacional);

-Garagem Auto-Palace (Imóvel de Interesse Público);

-Edifício de Miguel Ventura Terra, na Rua Alexandre Herculano, 57 (Imóvel de Interesse Público);

-Sinagoga Portuguesa Shaaré Tikvah (Imóvel de Interesse Público);

-Palácio Palmela, incluindo o Jardim Terraço - Procuradoria Geral da República (Imóvel de Interesse Público);

Para além destes cinco imóveis já classificados, existem actualmente mais seis em vias de classificação. Recordamos, também, que a Carta Municipal do Património do PDM seleccionou para protecção várias dezenas de imóveis nesta zona, com destaque para o conjunto urbano da Rua do Salitre.

A LAJB também constata que a proposta arquitectónica do novo edifício é convencional apesar da sua aparente imagem de modernidade. A existência de sete caves para estacionamento constitui prova disso pois é um erro à luz dos actuais modelos de desenvolvimento urbano sustentável.

Verificamos, com grande preocupação, que o novo edifício não apresenta mais valias para esta zona histórica da cidade. A sua imagem e escala vão introduzir uma rotura desnecessária numa zona urbana consolidada como é o Largo do Rato / Rua do Salitre.

Assim, considerando que estamos perante um gaveto:

-com dois imóveis recuperáveis e perfeitamente integrados numa zona com grande valor patrimonial, com que fundamentos se propõe a sua demolição?

-com frentes urbanas sobre arruamentos onde se verifica intenso trâfego automóvel, com que fundamentos se pode aprovar um novo edifício de habitação com sete caves de estacionamento?

-localizado mesmo em frente a um acesso da estação do Rato da rede do Metropolitano de Lisboa, e numa zona servida por dezenas de autocarros da Carris, com que argumentos se defende a aprovação de um edifício de habitação que promove de uma maneira excessiva hábitos insustentáveis como o uso do transporte individual dentro da cidade?

-parcialmente ocupado por um tradicional logradouro, com que argumentos se defende uma proposta de nova construção que propõe a impermeabilização total do terreno e sem qualquer espaço verde de compensação?

-localizado numa área urbana com níveis elevados de poluição ambiental (do ar e sonora), com que argumentos se defende a construção de um edifício para habitação junto a arruamentos sem conforto ambiental adequado a esse uso?

Pelas razões expostas, a LAJB considera que o novo edifício proposto vai contra o modelo de desenvolvimento sustentável que deve marcar as intervenções nas zonas históricas urbanas. As suas características frustram expectativas que marcam a actualidade das cidades, como por exemplo, as mudanças climáticas, os estilos de vida sustentáveis e a preservação e reciclagem do património arquitectónico e urbano.

A LAJB vem assim solicitar à Câmara Municipal de Lisboa que não aprove este projecto. Os edifícios existentes no local não devem ser demolidos mas sim reabilitados dando corpo à urgente mudança de paradigma na gestão da cidade como é defendido pelo actual executivo municipal.

Lisboa ainda é uma das capitais europeias com menor investimento na reabilitação e conservação urbana. Por esta razão, a Câmara Municipal de Lisboa terá de assumir cada vez mais um papel orientador e pedagógico do sector imobiliário, emitindo juízos coerentes com a política de reabilitação urbana sustentável.

NOTA: A proposta de demolição e construção nova é votada hoje em reunião da CML. Para assinar a petição "Salvem o Largo do Rato", clique no título.

FOTO: Chafariz do Rato na década de 30 do século XX pelo fotógrafo Eduardo Portugal (1900-1958). Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

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