Divulgamos aqui um contributo do Professor Costa Lobo, a propósito do debate sobre o lugar do peão na nossa cidade. Os nossos agradecimentos ao movimento "Passeio Livre".
O Peão em Lisboa
I - Mal tratado
Carros a passar em grandes quantidades nas artérias principais da capital, com uma paisagem extensa de parqueamento automóvel, com carros onde é proibido estacionar e nos próprios passeios
Com poucos percursos verdes e azuis [água] para uso dos peões e bicicletas da cidade
Com vias de pavimentos degradados, nomeadamente nos passeios
Com obras em muitos lados mas nem sempre respeitosas para quem vai a passar na rua
Com uma sinalética insuficiente, e pouca informação fácil de consultar nomeadamente na sinalização de percursos pedonais de interesse
Com tráfegos de veículos que ocasionam elevados graus de poluição em certas áreas da cidade
Com muitas situações de risco de acidentes de tráfego para os peões e tempos de travessia pedonal curtos e raramente desnivelados
II - Mesmo assim feliz, em Lisboa
Temos que concluir que o peão não parece ainda ser bem-vindo a esta cidade, cidade que nos atrai pela sua luminosidade, pelos seus bairros variados, pelas vistas sobre o estuário do Tejo e pela atracção dos seus espaços próximos: das praias da linha do Estoril, da Arrábida, de Sintra (Património da Humanidade), de Mafra e da Costa Atlântica, das margens de Vila Franca e do Ribatejo, da Reserva Natural do Estuário do Tejo.
III - Super-pé
Nestas circunstâncias parece-me de insistir na adopção da metodologia "Super-pé", que seria um grande passo em frente para a qualificação da vida em Lisboa. Este método trata cinco frentes:
A educação cívica da população de todas as idades
A saúde pública e respectivas medidas
A organização do tráfego, de modo a restringir os caudais de carros poluentes e a concentração do parque automóvel em parques próprios, periféricos às Áreas Centrais, estas com prioridade para os peões e os transportes públicos não poluentes
Campanhas de condução respeitadora, policiamento e procura de soluções alternativas amigas do ambiente
Construção de percursos de peões, bons pavimentos nos passeios e arborização/tratamento paisagístico de caminhos pedonais e de bicicletas, tornando atractivos esses modos de deslocação.
IV - Que bom seria!...
Se o peão voltar a ser senhor da Cidade de Lisboa e nela pudesse viver, sonhar, divertir-se, encontrar-se, usufruir do seu clima, etc, etc... que bom seria!
Manuel da Costa Lobo Professor Catedrático Jubilado do IST, ex-provedor do Ambiente e da Qualidade de Vida da CML
FOTO: A Rua da Escola Politécnica c.1900, antes do "assalto" dos automóveis... que acabou por transformar este arruamento num dos mais anti-peão da capital. Augusto Bobone (1852-1910)Arquivo Municipal.
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