«Poderia ser interessante a ExperimentaDesign fazer uma performance neste Jardim Histórico mas condicioná-lo à visão de um grupo de designers parece muito redutor.
Não se trata de um jardim particular mas público e, portanto, deveria manter-se como um espaço que permitisse as mais diversas formas de fruição.
Pessoalmente não procuro num Jardim o mesmo que procuro num Centro Cultural ou Comercial.A ideia de ver inscrições nos troncos das árvores aparece-me como uma ocultação da escrita natural que os mesmos encerram, para quem tenha vontade e capacidade de os ler.
O mesmo poderia dizer das propostas auditivas que se desenham para este Jardim como se os pássaros que o habitam tivessem sido de súbito atacados por uma doença que os silenciasse.
Em Lisboa, existem poucos espaços onde uma pessoa possa descansar, meditar, conversar, ler, desenhar sem ruídos, nem artíficios ou estímulos.
Não é verdade que o jardim esteja "ensonado" ou seja "velhinho", as árvores, como se sabe, já vivem neste planeta há muito mais tempo do que o ser humano, e por isso não é possível entender a sua idade nem a sua postura com os mesmos parâmetros (preconceitos) com que nos avaliamos.
O Jardim de Santos está cheio de vida, tem vida própria, e a presença humana é muitas vezes prejudicial à sua centenária alegria.A insistência em animar os jardins supõe uma terrível realidade: a de que os seus visitantes não têm capacidade de se descobrirem e descobrirem o espaço livremente.Um grande desafio para quem tem jardim interior.» 7-8-2009
Susana Neves, autora das crónicas "A Casa na Árvore" (TL)
Nota: Lamentamos que a manutenção, ou recuperação, do espaço público na nossa cidade esteja cada vez mais refém de patrocinadores ou "eventos especiais". Tal como muitos outros antigos espaços verdes lisboetas, o Jardim de Santos precisa é que substituam o pavimento em alcatrão e o mantenham limpo. Problemas para resolver são os resíduos deixados pelos frequentadores dos bares (copos de plásticos e garrafas de cerveja são mais comuns que as flores!), o excesso de estacionamento nos passeios circundantes e o ruído do trânsito da Av. 24 de Julho.
FOTO: Jardim de Santos e o Tejo. Finais do séc. XIX. Fotógrafo não identificado (Arquivo Municipal).
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