O escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) é autor de uma centena e meia de contos para crianças e adultos. Poeta e artista, romancista, dramaturgo, pensador existencialista, jornalista, crítico, tradutor, narrador de viagens... Um rapaz que queria ser cantor, actor, bailarino. Hans Christian Andersen teve uma relação pessoal com Portugal, revelada no seu livro «Uma Viagem a Portugal em 1866».
O autor entrou em Portugal por Elvas chegando a Lisboa no dia 6 de Maio. Após ter estado quase um mês na zona da capital, passeou depois por vários locais do país desde Setúbal a Coimbra e Aveiro. No seu livro há várias referências à flora que observou em Portugal. Mas nos seus últimos cinco dias na capital, enquanto aguardava pelo navio que o havia de levar de volta à Dinamarca, Hans Christian Andersen faz uma descrição da falta de conforto ambiental de Lisboa em Agosto. A falta de sombra, isto é, a falta de árvores na envolvência do hotel da zona da Baixa/Cais do Sodré onde estava hospedado, constituiu um tormento para o autor.
O autor entrou em Portugal por Elvas chegando a Lisboa no dia 6 de Maio. Após ter estado quase um mês na zona da capital, passeou depois por vários locais do país desde Setúbal a Coimbra e Aveiro. No seu livro há várias referências à flora que observou em Portugal. Mas nos seus últimos cinco dias na capital, enquanto aguardava pelo navio que o havia de levar de volta à Dinamarca, Hans Christian Andersen faz uma descrição da falta de conforto ambiental de Lisboa em Agosto. A falta de sombra, isto é, a falta de árvores na envolvência do hotel da zona da Baixa/Cais do Sodré onde estava hospedado, constituiu um tormento para o autor.
«As cortinas estavam corridas, as portas das janelas fechadas para que não entrasse a luz quente do sol. Era uma verdadeira tortura sair, só se podia caminhar pela sombra minguada das casas. Isso me vi forçado a fazer, pois estar todo o dia deitado ou vaguear pelas salas semiobscuras, sem receber a visita de qualquer pessoa conhecida, seria insuportável. Dirigi-me assim aos escritórios de O'Neill, onde encontrei jornais que me deram notícias do que se passava além das fronteiras de Portugal. Cheguei atormentado pelo calor e atormentado regressei a casa, até começar a sentir algum bem estar pela noitinha. Foi, então, um alívio ir para o balcão da janela gozar a brisa fresca que soprava tão benfazejamente refrescante nos olhos, na boca, trazendo nova vida. Pude depois sair à vontade para a rua, misturar-me com o povo, entrar nos cafés e percorrer os passeios.
O dia seguinte foi quente como o anterior. O navio não chegou na data esperada e, em vez de dois, tive de ficar cinco dias na cidade ardente de sol.»
in "Uma Visita a Portugal em 1866" de Hans Cristian Andersen (Tradução de Silva Duarte, Gailivro, 2003)
O dia seguinte foi quente como o anterior. O navio não chegou na data esperada e, em vez de dois, tive de ficar cinco dias na cidade ardente de sol.»
in "Uma Visita a Portugal em 1866" de Hans Cristian Andersen (Tradução de Silva Duarte, Gailivro, 2003)
Hans Christian Andersen partiu de Lisboa no dia 14 de Agosto de 1866 com sementes de flores na caixa de chapéus.
Mais de um século depois da partida do escritor Dinamarquês, toda a zona da Baixa e Chiado continua sem árvores de alinhamento. E a zona ribeirinha, que deveria ser arborizada de modo a compensar a falta de árvores no centro histórico pombalino, tem vindo a ser progressivamente ocupada com construções como é o caso dos novos edifícios para as agências europeias no Cais do Sodré.
FOTO: Panorâmica do Cais do Sodré e da Ribeira num verão da década de 1860. Fotógrafo desconhecido, negativo de gelatina e prata em vidro. Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal
2 comentários:
Palavras ainda bem actuais...Aliás, ainda hoje, pude ler um texto com 141 anos de idade, precisamente sobre a problemática relação dos portugueses com as árvores:
http://alemcaia.blogs.sapo.pt/22881.html
Passados tantos anos, custa bastante verificar como não se evoluiu praticamente nada nesta matéria. E falo na questão das podas, mas também na falta de arborização de muitas ruas.
Claro que a maioria das ruas das cidades e vilas portuguesas, mesmo as de construção recente, são acanhadas e não suportam a plantação de árvores de grande porte, como os plátanos. Aliás, esse é um dos erros recorrentes e que depois, pretensamente, "justifica" a necessidade de as podar de forma drástica.
Pobre povo este que desconhece a sua flora e que, sem necessidade de recorrer a espécies exóticas, aí poderia encontrar arbustos e pequenas árvores com tanto potencial ornamental, em particular para ruas com pouco espaço. Talvez um dia os portugueses compreendam as delícias de um pilriteiro ou de um azereiro, por exemplo.
As cidades portuguesas continuam a ser desertos ardentes, nos quais a muito custo se circula a meio da tarde.
Obrigado pelo seu comentário e pela interessante referência bibliográfica.
De facto, e por razões diversas e remotas, os portugueses ainda não acordaram para as delícias da flora em geral e da lusitana em particular. Não é por acaso que a cultura científica dos portugueses é das mais baixas na Comunidade Europeia. A maneira como o país continua a tratar as árvores é um sinal inequívoco desse atraso.
Há um longo trabalho a fazer para despertar os portugueses para "as delícias de um pilriteiro ou de um azereiro" como afirma.
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