«A proposta do ICOM é a da criação de um pólo museológico na colina de Santana depois da desactivação dos hospitais
A comissão portuguesa do ICOM (Conselho Internacional de Museus) tem vindo a acompanhar "com crescente preocupação" as notícias sobre os planos para a desactivação dos Hospitais Civis de Lisboa e teme pelo futuro deste "património de inestimável valor nacional e internacional", declarou ontem a direcção nacional da organização.
Avançar no processo de extinção dos hospitais da colina de Santana (São José, Santa Marta, Santo António dos Capuchos e ainda o Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, este já encerrado) sem ter em conta o património a eles ligado constituiria "um intolerável acto lesivo da nossa memória colectiva", diz o ICOM Portugal, em comunicado.
O processo de desactivação dos hospitais - que foram já vendidos à Estamo, entidade pública encarregada da venda do património do Estado - "levanta muitas dúvidas que carecem de resposta por parte do Ministério da Saúde, como absolutamente se impõe em vivência democrática", prossegue o documento. Até agora o Ministério da Saúde não esclareceu o que tenciona fazer com o património dos hospitais, parte do qual está classificado.
Por isso, o ICOM apela à tomada de medidas que considera de "carácter imperioso e urgente". A primeira é a reabertura do público da Enfermaria-Museu do Hospital Miguel Bombarda, edifício classificado que funcionou durante muitas décadas como enfermaria para doentes vindos da penitenciária e onde está exposta parte da colecção de arte feita pelos doentes, do arquivo fotográfico e de material hospitalar.
Mas, apesar de este ser o caso mais premente, as preocupações do ICOM são mais latas e abrangem o conjunto dos hospitais da colina de Santana, para os quais propõe a "criação de unidades museológicas respeitando os respectivos "espíritos do lugar"". A ideia, explicou ao PÚBLICO Luís Raposo, presidente do ICOM Portugal, é criar um museu com vários pólos, tendo como unidade nuclear o edifício do antigo Colégio de Santo Antão-o-Novo, que faz hoje parte do Hospital de São José.
O ICOM não se pronuncia sobre qual deveria ser a tutela deste pólo museológico, mas Luís Raposo lembra que "o know how sobre museus está na Cultura", pelo que o projecto deveria envolver os dois ministérios (Saúde e Cultura). No entanto, antes disso, Luís Raposo classifica como "crucial" o inventário de todo o património, móvel e imóvel, destes hospitais.
A organização dos museus apela ainda a que seja estabelecido com a câmara e as faculdades de Arquitectura "um plano urbanístico e de valorização patrimonial" em torno desta "colina da saúde" que constitui "o maior e mais importante conjunto de património da medicina e saúde do nosso país". Por fim, o ICOM, em parceria com a Associação Portuguesa de Museologia, defende o estabelecimento de "termos de referência claros" para a utilização dos espaços desactivados dos hospitais.»
In Público (8/1/2011)
Nota: este é de facto um assunto importantíssimo que infelizmente não tem recebido a devida atenção por parte do Estado. Este património - nacional - não pode ser reduzido pelo Estado a simples " questão de imóveis e terrenos" para especulação imobiliária. É de Património Cultural com importância nacional de que estamos a falar. O processo de extinção de hospitais está a ser levado a cabo de modo irresponsável porque não há plano de salvaguarda do património cultural. Foto: Entrada do Hospital Miguel Bombarda, c.1910. Fotógrafo não identificado, Arquivo Municipal de Lisboa.
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