quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Morreu o arquitecto Nuno Teotónio Pereira

O associado da Liga dos Amigos do Jardim Botânico de Lisboa, Nuno Teotónio Pereira morreu esta quarta-feira aos 93 anos de idade.

 À sua família e amigos, a LAJB expressa as suas sentidas condolências.

"O arquitecto Nuno Teotónio Pereira morreu esta quarta-feira aos 93 anos, confirmou ao PÚBLICO fonte da família – completaria os 94 no próximo dia 30. Com uma carreira de seis décadas, foi uma das mais destacadas personalidades da arquitectura, do urbanismo e da habitação em Portugal – e, possivelmente, o último dos arquitectos modernos. Pelo seu atelier da rua da Alegria, em Lisboa, passaram sucessivas gerações dos mais importantes arquitectos portugueses, de Gonçalo Byrne a Nuno Portas.
Os seus traços estão espalhados pelo país: da Igreja de Águas (1949-57), em Penamacor, o seu primeiro projecto, construído quando tinha 27 anos) à Moradia Barata dos Santos (1959-63), em Vila Viçosa, já projectada em parceria com Nuno Portas, o arquitecto com que mais gostou de trabalhar, como confessaria numa entrevista de vida ao Expresso. Mas é em Lisboa que está o mais significativo conjunto de obras de Teotónio Pereira: o Bloco das Águas Livres (1953-56), assinado com Bartolomeu Costa Cabral; as torres do bairro de Olivais Norte (1957-67), projecto em co-autoria com Nuno Portas e Pinto de Freitas que ainda hoje é festejado como uma das melhores histórias da habitação social em Portugal; o icónico Edifício Franjinhas (1965-69), com João Braula Reis; e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, novamente com Nuno Portas – os três últimos vencedores do prémio Valmor. 
Será justamente na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, onde repetiu a proposta de assembleia em leque já experimentada em Penamacor, que o seu velório terá lugar esta quinta-feira, a partir das 17h. O funeral realiza-se no dia 22, às 13h30, no Cemitério do Lumiar.
Autor de vários artigos e comunicações nas áreas da arquitectura, do urbanismo, do património e do ordenamento do território, manteve também, com outros católicos progressistas, uma militância política extraordinariamente activa, sobretudo durante o regime de Salazar, a que se opôs frontalmente apesar de ter crescido numa família conservadora e afecta ao regime (e de, adolescente, ter desfilado entusiasticamente com a farda da Mocidade Portuguesa). Histórico defensor dos direitos cívicos e políticos durante os anos mais duros do Estado Novo (dinamizou o boletim clandestino Direito à Informação criado em 1963 para fazer a denúncia activa da Guerra Colonial, integrou a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos constituída em finais de 1969), foi um dos mentores e participantes da famosa vigília da Capela do Rato de 30 de Dezembro de 1972, uma greve de fome de 48 horas destinada a promover a reflexão sobre a Guerra Colonial que a polícia acabaria por interromper fazendo várias detenções. Ele próprio seria várias vezes preso (e duramente torturado) pela PIDE. Quando finalmente se deu o 25 de Abril de 1974, estava aliás há vários meses na prisão de Caxias, de onde seria libertado um dia depois da revolução
Já em democracia, prosseguiu a sua militância, tendo ainda em 1974 sido um dos fundadores (com Jorge Sampaio e Ferro Rodrigues, entre outros) do Movimento de Esquerda Socialista, que seria extinto em 1981.
Como católico, Nuno Teotónio Pereira foi um dos grandes impulsionadores do Movimento da Renovação da Arte Religiosa (MRAR). A Igreja do Sagrado Coração de Jesus – onde se realizou uma homenagem por ocasião dos seus 90 anos –, classificada como monumento nacional, é disso um exemplo. Pensado com Nuno Portas, este projecto surgiu na sequência da criação, em 1952, do MRAR, de que faziam parte artistas plásticos como José Escada, Jorge Vieira, Cargaleiro, Madalena Cabral ou Eduardo Nery, e arquitectos como Nuno Portas, Luís Cunha, Diogo Lino Pimentel ou Formosinho Sanches.
O arquitecto foi mesmo o primeiro presidente do MRAR, que se definia como “uma comunidade católica de artistas, com o fim genérico de promover, em todos os domínios da arte religiosa, o encontro de uma verdadeira criação artística com as exigências do espírito cristão”. Este movimento deu um grande contributo para a recepção e para a difusão, em Portugal, das mudanças provocadas pelo Concílio Vaticano II (1962-65), que encetou o movimento de reforma da Igreja Católica."

In  Jornal Público,

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