PAISAGEM DO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA (DESDE 1986)
O nascimento do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, em 1996 veio representar outro momento fundamental na história do Parque através de nova intervenção na paisagem. Esta aconteceu numa parcela lateral ocupada por uma horta e um laranjal e foi dirigida por João Gomes da Silva (com a colaboração de Erika Skabar), arquitecto paisagista convidado por Álvaro Siza Vieira. A história do lugar, a sustentabilidade do espaço e a topografia foram os aspectos estruturadores do projecto que tinha em conta não só a presença do novo edifício, como o seu programa e usos.
Uma nova paisagem foi então redefinida tendo em conta os espaços envolventes e a sua relação com o novo edifício. Criaram-se maciços vegetais nas orlas existentes (jardim de Gréber, a Mata e o muro da Quinta) delimitando-se a sua localização face aos jardins, a Mata e o exterior. Junto às orlas definem-se, então, três clareiras. Uma, a Norte, envolvida por três pequenos bosquetes de bétulas e azevinhos assinala a entrada do Museu. Outra, localizada entre o Roseiral e a Mata está salpicada de Teixos que, em contraluz ao fim do dia, contrastam com o museu exposto ao sol. Finalmente, no espaço onde o muro e a Mata se cruzam deparamos com a terceira clareira caracterizada pela presença de quatro maciços paralelos de Azinheiras, delimitada por uma longa sebe de Pilriteiro.
Esta paisagem é também caracterizada pelas espécies que a constituem. Ao contrário da flora exótica que Gréber introduziu, optou-se pelo trabalho sobre a vegetação autóctone do Norte de Portugal, incluindo espécies como a Bétula, o Azevinho, os Carvalhos, o Teixo, o Pilriteiro e as Urzes, procurando-se assim permitir ao público um outro conhecimento desta natureza. Serve também de suporte de exposições e obras de arte em regime temporário ou permanente e de percurso dirigido aos visitantes. Modelado pelas condições que o edifício do Museu coloca, trata-se de um espaço que é definido topologicamente como extremidade de uma bacia aberta, separada dos outros jardins. Fluindo em direcção à Mata através de um declive na encosta permite-nos entrever a silhueta do Museu cuja relação com a luz adquire especial importância pois ao longo do ano a sua imagem transfigura-se perante os contrastes e variações da luminosidade.
RECUPERAÇÃO
A alteração da função original – de espaço de habitar, privado e exclusivo, a espaço de produção e difusão de cultura, público e inclusivo –, associada ao estado de conservação que caracterizava os sistemas e os lugares que constroem a paisagem de Serralves, prescreveu a necessidade de implementar um Projecto de Recuperação.
Esta intervenção permitiu, de modo integrado e antecipativo, requalificar e valorizar esta paisagem, sendo um instrumento operativo para analisar e actuar no Parque de Serralves, de forma total, sistematizada e integrada, no espaço e no tempo, tempo este que ultrapassará significativamente o decurso das obras.
O Projecto de Recuperação para o Parque Serralves, cujos estudos se iniciaram em 2001, teve como filosofia geral de intervenção a Reabilitação. Esta consiste na adaptação dos espaços e/ou dos elementos estruturantes e de composição através de várias intervenções, as quais permitem solucionar os problemas que afectam o uso, a função e a aptidão actuais e futuras. A Reabilitação é um processo de intervenção através do qual a integridade do património é salvaguardada.
A área de intervenção definida pelo Projecto de Recuperação inclui o espaço do jardim projectado em 1932 por Jacques Gréber e outras áreas da propriedade da Fundação de Serralves, como sejam os limites Sul e Sudeste com características agrícolas, e a mata localizada a Oeste. Apenas o espaço envolvente do edifício do Museu de Arte Contemporânea, bem como a Colecção de Plantas Aromáticas, estão excluídos do Projecto de Recuperação. A empreitada de realização do projecto foi subdividida em 14 áreas de execução temporal e espacialmente faseada, tendo permitido manter o Parque de Serralves aberto ao público durante a obra, investindo o próprio processo de obra, acompanhado de um plano de comunicação in situ e in visu, de uma função pedagógica.
A autoria do Projecto é partilhada entre Claudia Taborda, à altura Directora do Parque, e que nessa qualidade definiu o seu conteúdo programático e orientou a sua produção, e João Mateus, arquitecto paisagista escolhido por concurso para a sua realização. A concepção do Projecto de Recuperação e Valorização do Parque de Serralves foi acompanhada por um Conselho Consultivo constituído pelos arquitectos paisagistas Aurora Carapinha, Teresa Andresen, Gonçalo Ribeiro Telles e Ilídio de Araújo.