domingo, 31 de agosto de 2008

TERRA À TERRA: um exemplo do Porto

Terra à Terra - Projecto de Compostagem Caseira

O Terra-à-Terra é um projecto criado pela Lipor que visa promover a redução dos resíduos orgânicos ao nível das habitações da área da sua intervenção.

Os Municípios associados da Lipor contribuem com mais de 500.000ton/ano de resíduos sólidos urbanos que precisam de recolha, transporte, tratamento e deposição. Todo este processo tem custos económicos e ambientais consideráveis. Cerca de 40% dos resíduos produzidos são resíduos orgânicos, que podem em parte ser valorizados através da compostagem caseira, facilmente praticada nas habitações, tendo igualmente como benefícios o exercício físico, o contacto com a natureza, a melhoria dos solos e claro, um ambiente melhor. Estima-se que o processo de compostagem caseira permite uma redução em mais de 300Kg/ano por compostor.

Com este projecto pretende-se fomentar a prevenção dos resíduos orgânicos recolhidos e tratados de forma centralizada, reduzindo assim, o impacte ambiental associado ao processo e melhorando a qualidade de vida da população afectada.

Para aderir ao projecto e receber gratuitamente um compostor, os interessados precisam apenas de preencher uma ficha de inscrição, ter idade superior a 18 anos e residir em habitação permanente com jardim na área de intervenção do projecto. Após frequentar gratuitamente uma Acção de Compostagem de 3 horas, receberão um compostor.

O projecto é dinamizado pela Lipor em parceria com os seus Municípios Associados e não tem custos para os participantes. Para saber mais: http://www.hortadaformiga.com/

HORTA NA ESCOLA: um exemplo do Porto

De modo a promover a redução de resíduos, a cidadania e a qualidade de vida nas escolas, a Lipor (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto) iniciou em 2004 um projecto intitulado 'Horta na Escola'.

Com este projecto a Lipor pretende ajudar as escolas a instalar uma pequena horta na sua envolvente, para que os alunos, funcionários e professores possam desfrutar dos produtos que aí cultivarem.

Numa fase preparatória foi solicitádo o preenchimento e envio de um pequeno inquérito, de modo a se poder avaliar o que existia nas escolas, quais as suas necessidades e qual o interesse em desenvolver o projecto.

Em Novembro de 2004, deu-se o início às actividades nas escolas.

A 1ª sessão é uma visita à Horta da Formiga - Centro de Compostagem Caseira, um espaço criado pela Lipor para educar e sensibilizar os cidadãos, em especial a população escolar. Permite demonstrar o que é a compostagem, quais as suas vantagens e diferentes usos (tem uma horta e um pomar biológicos com espécies cuidadosamente seleccionadas, onde é utilizado o composto produzido).

A 2ª sessão é dedicada à compostagem caseira (como separar os resíduos orgânicos, como encher o compostor e como manter o compostor a funcionar).

A 3ª sessão destina-se à horta (o que semear, plantar, que utensílios usar, como utilizar o composto e como manter a horta durante o ano respeitando sempre os métodos de produção biológica).

A 4ª sessão é no final do ano lectivo, para verificar se está tudo a correr conforme previsto.

Já aderiram ao projecto 36 escolas da região do Grande Porto. A utilização do composto como fertilizante no cultivo de alimentos para consumo pessoal é uma maneira simples e directa de nos ligar com a terra e ao mesmo tempo contribui para a diminuição de resíduos orgânicos a enviar para tratamento, que correspondem a 40% do nosso saco do lixo doméstico. Para mais informações sobre o projecto visite: http://www.hortadaformiga.com/

FOTO: jovem figueira, Ficus carica, uma das árvores a crescer na 'Horta na Escola'.

sábado, 30 de agosto de 2008

HORTA À PORTA: um exemplo do Porto

Horta à Porta - hortas biológicas da região do Porto, é um projecto que visa promover a qualidade de vida da população, através de boas práticas agrícolas. Apesar de já existirem na região do Grande Porto alguns projectos de compostagem caseira, hortas pedagógicas e agricultura biológica, é ainda muito limitada a sua divulgação e acesso à população. O projecto é dinamizado pela Lipor (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto) em parceria com as Juntas de Freguesia de S. Pedro de Rates, Aver-o-mar e Maia e os Municípios de Matosinhos, Póvoa de Varzim, Maia e Porto.

A criação de uma rede desta natureza reveste-se de enorme importância, pelo que a Lipor, na tentativa de optimizar os espaços, a informação e os meios existentes na Região, lançou o Projecto Horta à Porta. Esta iniciativa passa não só pela criação de espaços verdes dinâmicos mas também pela promoção do contacto com a Natureza e de hábitos saudáveis sem esquecer a redução de resíduos.

O projecto Horta à Porta surgiu em Julho de 2003 devido à necessidade de articular a disponibilidade de várias entidades numa rede que viabilizasse uma estratégia para a Região do Grande Porto no domínio da Compostagem Caseira, na criação de Hortas e na promoção da Agricultura Biológica.

Na prática, este projecto pretende disponibilizar talhões de aproximadamente 25 m2 a particulares interessados em praticar a agricultura biológica e a compostagem. Ao receber o talhão de terreno, os futuros agricultores recebem também formação em agricultura biológica (para amadores) e acompanhamento técnico ao longo do ano. É ainda disponibilizada água, um local para armazenar as ferramentas e um compostor comum.
Os munícipes têm a possibilidade de cultivarem a sua pequena horta, com a garantia de qualidade dos produtos, de melhor saúde e ambiente. Neste momento estão já a funcionar 10 hortas urbanas:

MAIA
Horta de Crestins – 74 talhões
Horta da Maia - 14 talhões
Horta da Quinta da Gruta - 66 talhões

PÓVOA DE VARZIM
Horta de Rates - 10 Talhões
Horta de Aver-o-mar - 29 talhões

PORTO
Horta Municipal de Aldoar - 13 Talhões
Horta Municipal da Condomínia - 25 Talhões
Horta de Aldoar - 12 Talhões

MATOSINHOS
Horta de Custóias - 32 talhões
Horta de Leça da Palmeira - 19 talhões

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O Futuro das Hortas Urbanas na Europa: Congresso Internacional na Polónia

Congresso Internacional "O Futuro das Hortas Urbanas na Europa"
De 28 a 31 de Agosto em Carcóvia, Polónia

Este congresso é organizado pela união das federações nacionais das hortas urbanas e jardins de recreio da Europa, o "Office International du Coin de Terre et des Jardins Familiaux", instituição sem fins lucrativos que reúne mais de 3 milhões cidadãos de quinze países europeus (Alemanha, Aústria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Finlândia, França, Holanda, Luxemburgo, Noruega, Polónia, Reino Unido, República Checa, Suécia e Suiça).
Durante os três dias de trabalho irão ser tratados temas como a função e o significado das federações nacionais para o futuro das hortas urbanas e a adaptação das funções da agricultura urbana às novas necessidades da sociedade do ponto de vista da saúde.

As hortas urbanas desempenham um papel muito importante na conservação do ambiente nas cidades pois constituem um palco priviligiado para uma relação harmoniosa entre o Homem e a Natureza. Em muitos casos são incentivadas pelas próprias autarquias como forma de promover o Desenvolvimento Sustentável.

Podendo assumir uma vertente comunitária, de lazer, ou mesmo de suporte ao rendimento familiar, a agricultura urbana difere em vários aspectos da tradicional/rural. Estas hortas são criadas em pequenas áreas, dentro dos centros urbanos ou nos seus arredores, predominando a diversidade de cultivos. A produção destina-se ao consumo próprio ou à venda em pequena escala, funcionando muitas vezes como uma ocupação dos tempos livres.

O fenómeno das hortas urbanas surgiu nas nações do norte da Europa durante a segunda metade do século XIX. Na Alemanha, um dos países pioneiros, existem hortas urbanas desde 1864, ano em que se criou a primeira associação (Schreberverein) em Leipzig. Na Dinamarca, o país europeu com a maior percentagem de hortas urbanas, esta tradição remonta mesmo ao século XVIII existindo actualmente 409 associações de agricultores e jardineiros urbanos.

Em Portugal as hortas urbanas ainda são relativamente raras. Só nos últimos anos é que os cidadãos e as autarquias despertaram para este universo. Revelador do atraso do nosso país é o facto da capital ainda não disponibilizar hortas urbanas aos seus munícipes. O mesmo se passa com todos os concelhos da área metropolitana. Em comparação, a região do grande Porto tem hortas urbanas, em pleno funcionamento, desde 2003. O projecto "Horta à Porta - hortas biológicas da região do Porto" disponibiliza talhões de 25 m2 a particulares interessados em praticar a agricultura biológica e a compostagem.

Após um século de atraso em relação ao norte da Europa, encontra-se finalmente em estudo a criação de hortas urbanas na região da grande Lisboa (na capital, em Cascais e Seixal). O objectivo é melhorar a qualidade de vida através da criação de espaços verdes dinâmicos, que promovem o contacto da população com a Natureza e que funcionem como ferramenta de sensibilização ambiental.

Office International du Coin de Terre et des Jardins Familiaux
Rue de Bragance
L-1255 Luxembourg
http://www.jardins-familiaux.org/

FOTO: allotment garden (horta urbana) pedagógica instalada em St. James Park, Londres (2007).

domingo, 24 de agosto de 2008

Rua do Carmo: «plantem + árvores!»

Um graffiti na Rua do Carmo.
Um pedido de uma frontalidade extrema?
Um alerta pelo desconforto ambiental na Baixa pombalina?
Um grito de protesto pela ausência de árvores naquele arruamento?

A Liga dos Amigos do Jardim Botânico discorda em absoluto dos actos de vandalismo em propriedade pública e privada. Os graffiti, aplicados sem critério, estão a destruir o ambiente urbano da nossa cidade. Mas compreendemos o pedido expresso neste caso. Entretanto, este graffiti já foi removido. Quanto às árvores reclamadas pelo cidadão anónimo... continuam ausentes da Rua do Carmo. Em Lisboa parece ser mais fácil apagar um graffiti do que plantar uma árvore.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

HANS CHRISTIAN ANDERSEN em Lisboa: cinco dias na cidade ardente de sol

O escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) é autor de uma centena e meia de contos para crianças e adultos. Poeta e artista, romancista, dramaturgo, pensador existencialista, jornalista, crítico, tradutor, narrador de viagens... Um rapaz que queria ser cantor, actor, bailarino. Hans Christian Andersen teve uma relação pessoal com Portugal, revelada no seu livro «Uma Viagem a Portugal em 1866».

O autor entrou em Portugal por Elvas chegando a Lisboa no dia 6 de Maio. Após ter estado quase um mês na zona da capital, passeou depois por vários locais do país desde Setúbal a Coimbra e Aveiro. No seu livro há várias referências à flora que observou em Portugal. Mas nos seus últimos cinco dias na capital, enquanto aguardava pelo navio que o havia de levar de volta à Dinamarca, Hans Christian Andersen faz uma descrição da falta de conforto ambiental de Lisboa em Agosto. A falta de sombra, isto é, a falta de árvores na envolvência do hotel da zona da Baixa/Cais do Sodré onde estava hospedado, constituiu um tormento para o autor.

«As cortinas estavam corridas, as portas das janelas fechadas para que não entrasse a luz quente do sol. Era uma verdadeira tortura sair, só se podia caminhar pela sombra minguada das casas. Isso me vi forçado a fazer, pois estar todo o dia deitado ou vaguear pelas salas semiobscuras, sem receber a visita de qualquer pessoa conhecida, seria insuportável. Dirigi-me assim aos escritórios de O'Neill, onde encontrei jornais que me deram notícias do que se passava além das fronteiras de Portugal. Cheguei atormentado pelo calor e atormentado regressei a casa, até começar a sentir algum bem estar pela noitinha. Foi, então, um alívio ir para o balcão da janela gozar a brisa fresca que soprava tão benfazejamente refrescante nos olhos, na boca, trazendo nova vida. Pude depois sair à vontade para a rua, misturar-me com o povo, entrar nos cafés e percorrer os passeios.
O dia seguinte foi quente como o anterior. O navio não chegou na data esperada e, em vez de dois, tive de ficar cinco dias na cidade ardente de sol.»

in "Uma Visita a Portugal em 1866" de Hans Cristian Andersen (Tradução de Silva Duarte, Gailivro, 2003)

Hans Christian Andersen partiu de Lisboa no dia 14 de Agosto de 1866 com sementes de flores na caixa de chapéus.

Mais de um século depois da partida do escritor Dinamarquês, toda a zona da Baixa e Chiado continua sem árvores de alinhamento. E a zona ribeirinha, que deveria ser arborizada de modo a compensar a falta de árvores no centro histórico pombalino, tem vindo a ser progressivamente ocupada com construções como é o caso dos novos edifícios para as agências europeias no Cais do Sodré.

FOTO: Panorâmica do Cais do Sodré e da Ribeira num verão da década de 1860. Fotógrafo desconhecido, negativo de gelatina e prata em vidro. Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

terça-feira, 19 de agosto de 2008

TREES FOR CITIES: um exemplo de Londres

Trees for Cities é uma organização inglesa sem fins lucrativos que trabalha com comunidades urbanas em projectos de arborização. Os objectivos principais são controlar o aquecimento global, criar coesão social e embelezar as cidades através da arborização, da educação ambiental e da formação profissional em áreas urbanas desfavorecidas:

«Trees for Cities started life in 1993 as Trees for London when a group of young Londoners recognised the need for more trees in the capital. The founding vision, inspired by Jake Kempston who is still one of the charity's Trustees today, was to establish a charity that would be highly practical and would work with local communities to get more trees planted and green those areas most in need of greening. With Charity Commission approval, Trees for London was established with the following mission: "to advance the education of the public in the appreciation of trees and their amenity value, and in furtherance of this the planting and protection of trees everywhere, and in particular inner city areas". Initially money was raised through fundraising club nights as young Londoners danced through the night to raise funds for tree planting. The founding mission and ethos of the charity is as true today as it was in 1993.
In 2003, on our tenth anniversary, we changed our name to Trees for Cities, largely in response to requests for support and advice from cities around the world. In addition to tree planting, the charity is now involved in a wide range of activities that include educational work with schools and community groups, vocational training in arboriculture, horticulture and woodland management, re-landscaping the public realm, campaigning, and yes, we're still partying!»

A organização ultrapassou este ano as 100 000 árvores plantadas, nomeadamente 75 mil em Londres, 15 mil noutras cidades do Reino Unido e mais de 10 mil no resto do mundo. Para marcar o evento, a Trees for Cities convidou o novo mayor de Londres, Boris Johnson, para plantar a árvore número 100 000. Depois de plantar uma pereira ornamental, Boris Johnson prometeu 10 mil novas árvores por ano em Londres: «I have made a commitment to spend £1m a year planting 10,000 street trees to improve London's environment where we all live and work.»

Lisboa, uma cidade ainda muito "careca" precisa de iniciativas semelhantes. Existem muitos bairros a precisar urgentemente de projectos de arborização de arruamentos e de novos jardins. Há freguesias de Lisboa com um défice grave de espaços verdes. É o caso da Graça, Penha de França e de todas as freguesias da Baixa. No caso do centro histórico pombalino, a plantação de árvores de alinhamento melhoraria significativamente o conforto ambiental. Já na Graça e Penha de França, a solução poderá passar pelo estudo da arborização de terrenos abandonados ou expectantes como os interiores dos quarteirões. A abertura ao público da antiga cerca arborizada do Convento da Graça é outro projecto considerado prioritário pelos residentes. Também o emblemático Largo da Graça, reduzido à função de parque de estacionamento, tem potencial para ser transformado num verdadeiro espaço arborizado.

Para saber mais sobre a Trees for Cities: http://www.treesforcities.org/

FOTO: alameda de plátanos no Green Park, Londres

domingo, 17 de agosto de 2008

Escolas de Lisboa produzem Energia Verde

«Foi hoje [14/8/2008] oficialmente certificada a primeira instalação de microprodução fotovoltaica instalada numa escola de Lisboa, a Escola Luísa Neto Jorge (n.º 117), no Bairro da Flamenga, em Marvila. Simultaneamente, a instalação de uma unidade de aproveitamento de energia solar térmica, vai permitir uma poupança energética de cerca de 70% e uma poupança económica de 80%. Permitirá ainda que parte da energia produzida seja vendida à EDP, prevendo-se a sua ligação à Rede Eléctrica já na próxima semana. Esta instalação da Escola n.º 117 é a primeira a ficar concluída de um programa desenvolvido pela Câmara Municipal de Lisboa que irá permitir que, até ao final do corrente ano, oito escolas do concelho fiquem abrangidas. Trata-se de um programa efectuado ao abrigo do DL n.º 363/2007, de 2 de Novembro, sobre microprodução de energia utilizando a fonte de energia solar. A candidatura da CML para estas oito escolas foi aprovada, nos termos da lei, pela Direcção-Geral de Energia e Geologia. Sublinhe-se que a instalação da Escola Luísa Neto Jorge é a primeira a entrar em funcionamento na cidade de Lisboa e a primeira instalada num edifício público em todo o País. O investimento total deste programa da CML, que abrange, até ao final do ano, oito escolas, é de 200 mil euros, que deverá ser completamente amortizado ao fim de oito anos.» Fonte: http://www.cm-lisboa.pt/

FOTO: o sol penetrando as copas das árvores no jardim da Casa Daupiás na Rua do Arco a São Mamede

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Instalação de agências europeias nove meses atrasada

in Público, 13 de Agosto de 2008, por Ana Henriques

«Administração portuária não dá explicações, câmara diz que edifícios do Cais do Sodré deverão poder ser ocupados em breve

Está nove meses atrasada a instalação da Agência Europeia de Segurança Marítima e do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência no Cais do Sodré, apesar de os novos edifícios que vão receber as duas instituições aparentarem estar prontos há vários meses.

A Administração do Porto de Lisboa, que é a dona da obra, escusa-se a explicar por que razão não foi ainda possível as agências mudarem para a sua sede definitiva. Refere apenas que "está a ultimar tudo para que possam finalmente instalar-se" no Cais do Sodré - algo que estava previsto para Novembro passado, na recta final da presidência portuguesa da União Europeia.

As duas instituições não escondem o desagrado que a demora lhes provoca. O porta-voz da Agência Europeia de Segurança Marítima, Andy Stimpson, fala da dificuldade de programar as actividades da agência a longo prazo com a mudança sempre iminente. "Não sabemos quando vai ser preciso estarem em Lisboa para a mudança os funcionários da agência que fazem inspecções Europa fora", explica, acrescentando que não faz bem nenhum à imagem da instituição a situação indefinida em que se encontra. Acresce que, ao contrário do que tinha sido anunciado, a agência está a pagar grande parte dos custos das suas instalações provisórias, o edifício de nove andares Mar Vermelho, no Parque das Nações. Andy Stimpson escusa-se a falar em montantes, mas diz que se trata de uma soma significativa.

Certificação a decorrer
Questionado também sobre que prejuízos acarreta o atraso na transferência, o Observatório da Droga e Toxicodependência diz que o principal problema se relaciona com o facto de continuar "a funcionar em dois edifícios distintos, um em Santa Apolónia e outro na Av. Almirante Reis, com todas as dificuldades inerentes de funcionamento e transporte - mais do que prejuízos financeiros, embora também existam". As novas instalações "parecem adequadas aos padrões de exigência comunitários, embora esse processo de certificação, que é feito com a ajuda especializada do serviço da Comissão Europeia responsável pela gestão de infra-estruturas, esteja ainda a decorrer", informa ainda o observatório.

O que correu então mal?
Em primeiro lugar, o facto de a administração portuária não ter tratado do licenciamento dos edifícios desenhados pelo arquitecto Manuel Tainha a tempo e horas, alegando que já tinha as autorizações necessárias por parte da câmara. Uma situação que vem do anterior mandato autárquico e que o actual vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, classifica como caricata. Segundo o director municipal do Urbanismo, Gabriel Cordeiro, nesta fase do processo compete à administração portuária apresentar documentação como o livro de obra e a vistoria dos bombeiros, para que a câmara possa emitir a licença de utilização que permitirá ocupar os edifícios. O que pode acontecer até ao final do mês.

Arquitecto Manuel Salgado, eleito nas listas do PS nas autárquicas intercalares, tentou travar o projecto
Da autoria do arquitecto Manuel Tainha, o projecto para albergar no Cais do Sodré as agências europeias foi desde sempre mal-amado. Há um ano, durante a campanha eleitoral, o agora vereador do Urbanismo Manuel Salgado contava que ainda tentou impedir que as construções fossem por diante quando estava no grupo que elaborou o plano de reabilitação da Baixa, mas sem sucesso. Na mesma ocasião representantes da comunidade portuária garantiram que o projecto foi imposto à Administração do Porto de Lisboa pelo Governo. O Fórum Cidadania Lisboa fala no "atropelo ao usufruto pelo público da zona ribeirinha da antiga ribeira das Naus, acessível há seis décadas, desde a abertura da Av. Ribeira das Naus". O vereador eleito pelo Bloco de Esquerda José Sá Fernandes foi outro dos críticos do projecto. Tal como a Liga dos Amigos do Jardim Botânico, que se queixa de as novas construções ignorarem "preocupações ambientais como a preservação da biodiversidade, a poupança de água e os desafios colocados pelas mudanças climáticas", além de terem obrigado ao abate de "dezenas de árvores e arbustos".

Em Abril passado, a Câmara de Lisboa voltou atrás na decisão de deixar construir um terceiro edifício novo além dos dois que já ali foram erguidos para as instituições europeias. A proximidade dos edifícios do rio obrigou a criar durante a obra um sistema de drenagem e de rebaixamento do nível freático constituído por poços interiores e exteriores com bombas submersíveis. A proximidade do túnel do metropolitano foi outro problema que a empreitada do Cais do Sodré, a cargo do consórcio constituído pela Somague e pela Teixeira Duarte, teve de enfrentar.»

FOTO: Jardim entre a Ribeira das Naus e o rio Tejo, parte do qual foi destruído para a construção das agências europeias. Imagem de Artur Goulart datada de 1961. Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

domingo, 10 de agosto de 2008

AS ÁRVORES E OS LIVROS: Octávio Paz

Árvore Adentro

Cresceu uma árvore à minha frente.
Cresceu para dentro.
Suas raízes são veias,
nervos, seus ramos,
Suas confusas folhas, pensamentos.
Teus olhares incendeiam-na,
e seus frutos sombras
são laranjas de sangue,
romãs feitas de lume.

Amanhece

na noite do corpo.
Ali dentro, à minha frente,
a árvore fala.

Acerca-te. Ouve-la já tu?

Octávio Paz

FOTO: Ficus macrophylla na Classe do Jardim Botânico

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Quem chega a Lisboa sozinho de carro vai ter de pagar portagens mais altas

In Público, 7 de Agosto de 2008, por Ana Henriques

«Portaria publicada ontem manda executar medidas previstas em estudo para reduzir poluição. Aumento do número de faixas Bus é considerado prioritário.

Quem chega a Lisboa sozinho de carro vai ter de pagar portagens mais altas do que aqueles que viajam acompanhados. A introdução de portagens diferenciadas nos acessos à cidade que já são taxados é uma das principais medidas propostas num estudo sobre a melhoria da qualidade do ar na região de Lisboa e Vale do Tejo. O plano que visa o cumprimento das directivas comunitárias em matéria de poluição atmosférica foi ontem publicado em Diário da República, em anexo a uma portaria que ordena a execução das medidas nele apresentadas. O aumento das portagens dos carros que circulam só com o condutor deve, segundo o documento, ser feito apenas nos dias úteis e a certas horas. Em Roma, por exemplo, a penalização tem lugar das 9h00 às 12h00 e das 15h00 às 17h00. Mas esta é apenas a segunda medida considerada prioritária para reduzir para níveis aceitáveis as partículas que sujam o oxigénio que todos respiram.

Os autores do trabalho dizem que a medida mais relevante de todas é o aumento do número de corredores Bus, que permitiria aumentar a velocidade média de circulação dos autocarros dos actuais 14,9 quilómetros/hora para 25. A criação de cada um destes corredores é alvo de negociações entre a Carris e a Câmara de Lisboa, mas o processo parece padecer de doença grave. Senão, veja-se: em 2005, e de acordo com a newsletter da Carris, a autarquia considerou que poderia abrir corredores na Rua dos Fanqueiros e na Morais Soares, entre outras artérias. Hoje nenhuma delas tem ainda uma faixa exclusiva para os transportes públicos.

Lavar Av. da Liberdade

"Da parte da câmara nem sempre há uma resposta imediata", admite um adjunto do secretário-geral da Carris, Nuno Correia, acrescentando que em 2007 a transportadora abriu mais 710 metros de corredores Bus. "Vamos anunciar em Setembro uma melhoria das condições de circulação dos transportes públicos", diz o vereador que na autarquia tem o pelouro da Mobilidade, Marcos Perestrello, escusando-se, no entanto, a adiantar quais. Também no que à redução da poluição do ar diz respeito, a Câmara de Lisboa vai passar a lavar a Av. da Liberdade, que é uma das artérias mais preocupantes da cidade a este nível, "duas vezes por dia em vez de uma, para que as partículas poluentes não fiquem em suspensão no ar".

O aumento da fiscalização do estacionamento na cidade é outra medida considerada útil pelos autores do estudo. Aqui Marcos Perestrello declara que a câmara "tem de conseguir fazer melhor", embora a situação esteja, do seu ponto de vista, "infinitamente melhor do que há um ano". O autarca espera que o sistema de aluguer de bicicletas que vai lançar tire muitos automóveis das ruas. Já o plano de melhoria da qualidade do ar fala na renovação das frotas de autocarros e de táxis. Dos 745 veículos que a Carris tem ao seu serviço apenas 37 são movidos a gás natural, embora os restantes respeitem, segundo Nuno Correia, as directivas que obrigam a baixas emissões de dióxido de carbono. O trabalho ontem publicado fala em 50 novos veículos a gás natural para a Carris, mas a transportadora acabou de lançar concurso para comprar apenas mais 20. "Ainda não são tão eficientes como os que usam gasóleo, mas têm vindo a melhorar", observa o responsável. A criação de corredores especiais de circulação para viaturas com maior número de ocupantes é mais uma medida a ter em conta. A ideia é para aplicar nas vias estruturantes, sobretudo nos principais acessos a Lisboa. Outra ideia, embora não prioritária, passa pela cobrança de uma taxa de circulação na Baixa nos dias úteis, aplicável a não residentes.»

FOTO: Praça dos Restauradores no início do séc. XX antes do abate dos jardins para facilitar a crescente circulação rodoviária. Imagem de Paulo Guedes (1886-1947). Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal