segunda-feira, 30 de junho de 2008

VISITA: Percurso do Regicídio

A Liga dos Amigos do Jardim Botânico (LAJB) promove regularmente visitas guiadas a locais de interesse botânico, ecológico e histórico. A propósito do centenário do regicídio, propomos um percurso pela Baixa da cidade para reviver, numa espécie de "viagem no tempo", os acontecimentos do dia em que o Rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, foram assassinados, a 1 de Fevereiro de 1908. A visita, guiada pela Drª Elisabete Rocha da Hemeroteca Municipal, será repartida pelos locais ligados ao regicídio, desde a espingardaria onde foram compradas as armas que mataram o Rei até ao café onde os conjurados conspiraram o regicídio.

Percurso do Regicídio
Dia: 12 de Julho de 2008 - 10H00
Ponto de encontro: Café Gelo (Rossio)
Duração da visita: 3 horas
Guia: Drª Elisabete Rocha (Hemeroteca Municipal)

Tel: 21 392 18 28
Tm: 96 038 24 17
ldbotanico@fc.ul.pt

FOTO: Cortejo fúnebre de D. Carlos e D. Luís Filipe, na Praça do Príncipe Real, no dia 8 de Fevereiro de 1908. Imagem de Joshua Benoliel (1873-1932). Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

sexta-feira, 27 de junho de 2008

AS ÁRVORES E OS LIVROS: Saint-Exupéry

«Tal como acontece com a árvore, não podes saber seja o que for do homem se o desdobras pela sua duração e o distribuis pelas suas diferenças. A árvore não é semente, depois caule, depois tronco flexível, depois madeira morta. Para a conhecer é bom não a dividir. A árvore é essa força que desposa a pouco e pouco o ceú.»

Saint-Exupéry in, Cidadela

FOTO: Araucaria Cunninghamii no Arboreto do Jardim Botânico

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A CIDADE CARECA

in DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 28 de Julho de 1935, 1ª página

«A CIDADE CARECA - Vão ser cortadas em Lisboa mais de 110 árvores e entre elas ainda algumas da Avenida da Liberdade, do tempo do Passeio Público»

«Que espécie de gente será esta que vive em Lisboa - e pior: que manda em Lisboa - tão apostada sempre contra as árvores?! Que mal podem fazer as árvores, maravilhas da Natureza, a certa gente que tanto e tanto as odeia?! Porque, no fundo, se não há uma razão máxima de perigo ou de utilidade para o Homem, só por ódio se compreende que um homem possa cortar ou mandar cortar uma árvore. A teoria peregrina de que se cortam e queimam árvores por estarem doentes e para não pegarem a doença ás da mesma espécie não convence ninguém de bom senso. Nesse caso, e pelo mesmo raciocínio, a Direcção-Geral de Saúde tinha de mandar matar e queimar todos os pestiferos, os tifosos, os tuberculosos, todos os que tivessem, numa palavra, molestia contagiosa. E os médicos passariam a ser magarefes ou carvoeiros. A Câmara Municipal de Lisboa parece não pensar desta maneira, e mandou que se derrubassem, a golpes de machado, mais 110 (!) árvores da cidade, que estão na Avenida Almirante Reis, Calçada de Carriche, Largo do General Pereira de Eça nessa Avenida da Liberdade, a que se poderia chamar, mais propriamente, Avenida Mártir. (...)

«As razões - queira-nos a CML desculpar a franqueza - são outras. São as mesmas que levam Lisboa a ser uma das cidades menos arborizadas da Europa; a não ter parques; a ter uns jardinzinhos raquiticos, assim uma espécie de pátios mouriscos... São as mesmas que mandaram, na Figueira da Foz, por exemplo, rapar á escovinha certas ruas lindamente arborizadas, sob o pretexto de que as pobres atiravam ás casas a terra! E as mesmas que imperaram no recente vandalismo de Coimbra, quando escanhoaram todo o cais, em frente ao Hotel Astória. E as que determinam a fúria contra os gigantes, saudáveis e salutares eucaliptos de estrada do Alentejo. São as mesmas razões que levam os berberes e os seus irmãos de Portugal á ulmeirofobia, á plantonofobia, a todas as fobias contra e qualquer árvore que vejam em diante. (...)

«Se a CML, de cada vez que manda decepar uma árvore, mandasse plantar um cento por essas ruas, avenidas e colinas, ainda se remia um pouco das suas culpas e das câmaras que a precederam. Mas não o faz. E dentro em pouco os estrangeiros e os portugueses que não são berberes chamarão a Lisboa tristíssimamente... a Cidade Careca.»

FOTO: Ama com criança na Av. da Liberdade, 1912. Imagem de Joshua Benoliel (1873-1932). Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

Com este artigo de primeira página de 1935, corajosamente crítico para a época, iniciamos a série "A CIDADE CARECA" onde iremos reflectir sobre a importância da arborização dos arruamentos da nossa cidade. Também alertaremos para os maus tratos e falta de protecção das árvores de alinhamento. Tudo porque ainda existem muitas ruas carecas em Lisboa...

terça-feira, 24 de junho de 2008

EM FLORAÇÃO: Brachychiton acerifolius



Árvore em chamas? É assim que poderiamos talvez descrever a Brachychiton acerifolius actualmente em floração no Jardim Botânico (na Classe, junto das Estufas). A Brachychiton é um género com mais de 30 espécies, a maioria dos quais nativas das zonas tropicais da Austrália. A B. acerifolius é a mais cultivada devido à sua espectacular floração. No seu habitat natural pode atingir entre os 30 a 35 metros de altura mas quando cultivada em zonas temperadas ou mais frescas apresenta menor desenvolvimento. As folhas têm cerca de 25 cm de comprimento e a floração ocorre no início do Verão, antes da folhagem. As flores vermelhas, em forma de sino, surgem em cachos nas extremidades dos ramos e são depois seguidas por cápsulas contendo muitas sementes.
O seu nome vulgar na Austrália, Flame Tree, traduz muito bem a espectacular copa revestida de um vermelho vivo. É, justamente, considerada uma das mais espectaculares árvores australianas.

Nome: Brachychiton acerifolius (A. Cunn.) F. v. Muell.
Família: Sterculiaceae

Derivação do nome do género/espécie: brachychiton, de brachys, palavra grega para túnica, em referência ao revestimento das sementes / acerifolius, porque a folhagem lembra a do Ácer.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Portela 2050: das pistas boulevards rodeadas de mata espontânea à horta de 20 milhões

in Público, 23 de Junho de 2008, por Catarina Prelhaz

«Construir Manhattan em Lisboa. Instalar um ninho de empresas ou a Feira Popular. Para a Portela já se pensa na vida depois da morte

Uma nova-iorquina Manhattan debruçando-se sobre o seu Central Park em plena Lisboa: poderá não ser este o destino da Portela depois da saída do aeroporto para Alcochete, mas é a paisagem que os visitantes da última Trienal de Arquitectura gostavam de ver nascer nos 500 hectares que aquela transferência irá libertar. Construir arranha-céus ou plantar uma horta maior que o Parque das Nações: ontem foi a vez de arquitectos de renome e da nova geração e dos decisores políticos esgrimirem ideias para o futuro da Portela em 2050 num debate promovido pela Ordem dos Arquitectos.

Transformar as pistas do actual aeroporto em boulevards de um parque de actividades (a definir no futuro) envoltas numa mata espontânea é a proposta do arquitecto Nuno Portas e do ateliê NPK. A ideia é usar as pistas como suporte de edifícios de construção ligeira e delimitar a mata com carvalhos para potenciar o desenvolvimento espontâneo desta, evitando os "elevados" custos de implantação e de manutenção de uma área verde tradicional. Já os arquitectos Gonçalo Byrne e Manuel Fernandes de Sá imaginam a manutenção de um aeroporto na Portela. O objectivo é limitar o tráfego a voos de pequeno e médio curso, articulando-o com o transporte de helicóptero. A Portela tornar-se-ia, assim, uma cidade virada para a função aeroportuária, recheada de actividades terciárias, centros de congressos e de residências de curta duração. Rechear a Portela com a Feira Popular, um hipódromo uma zona residencial e comercial, centros de exposições e de concertos, hotéis e escritórios são as ideias do ateliê de arquitectura paisagista PROAP. Equilibrar a vertente ecológica e o tecido urbano é a proposta dos arquitectos João Carrilho da Graça e João Gomes da Silva. "É mais realista do que fazer um parque ou um espaço indeterminado que serão progressivamente ocupados de forma desregrada e infeliz", observaram.

"Pulmão de comida"
Já o colectivo de jovens arquitectos Embaixada preferiu auscultar as ideias do público da Trienal de Arquitectura de Lisboa de 2007, concluindo que a construção densa também é uma opção. Ideia diferente teve o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, para quem a Portela deveria dar origem a um megaparque hortícola com um rendimento de 20 milhões euros anuais, para fazer face às necessidades alimentares da região. "Lisboa não precisa de um pulmão, mas de comida", reiterou.

Portugal vai deitar 4,9 milhões de euros ao lixo caso o aeroporto da Portela não seja encerrado em 2017. O aviso é do vice-presidente da ANA- Aeroportos de Portugal, Carlos Madeira, que quer ver a zona aeroportuária totalmente livre das actuais funções sob pena de o novo aeroporto de Alcochete não passar de uma infra-estrutura fantasma. "Considerando os outros casos no mundo, há uma possibilidade de 30 por cento da Portela nunca chegar a encerrar, sobretudo quando temos dez milhões de especialistas aeronáuticos em Portugal", ironizou.

Segundo um estudo da ANA, do Boston Consulting Group e da Universidade Católica, "Lisboa não cumpre com os critérios para possuir dois aeroportos a funcionar simultaneamente". Com 14 milhões de passageiros anuais de origem, a capital fica aquém das cidades com dois aeroportos bem sucedidos, que atraem mais de 35 milhões, explicou Carlos Madeira, acrescentando que as companhias preferem concentrar-se num só local para potenciar a procura e as pessoas preferem ter oferta variada sem terem de deslocar-se. Partilhar o tráfego de aeronaves entre Alcochete e a Portela é, segundo o vice-presidente da ANA, ou "proibido" ou "inviável": "não se pode discriminar companhias" e Portugal não tem voos de carga suficientes que justifiquem um aeroporto suplementar." No Canadá, aquele que era para ser o maior aeroporto do mundo - Mirabel - foi fechado 35 anos depois de construído, porque o velho nunca chegou a ser encerrado. Não podemos deixar que isso aconteça cá". Fechar a Portela em 2017, evitando períodos de transição, e garantir ligações rápidas e cómodas a Alcochete são as soluções da ANA.»

FOTO: Montado de Quercus suber (Sobreiro), o carvalho mais abundante no sul do país. Boulevards de sobreiros na futura Portela?

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O JARDIM BOTÂNICO HÁ 100 ANOS


Grupo de doze pessoas na ponte de ferro no Lago de Baixo do Jardim Botânico.
Quem são? Uma família? Um grupo de amigos? Que histórias e segredos guardam os seus olhares? E de que falaram nos minutos que antecederam a fotografia?
Só as árvores que os rodeiam sabem. Só elas, entretanto adultas e veneráveis, nos poderiam responder. Mas calam-se. E percebemos porquê. Estão solidárias com o companheiro lago, que foi esquecido e abandonado.

Hoje, o nosso grande lago não nos pode revelar nenhuma história. Está seco e mudo. E nós estamos tristes porque ele, o maior lago do Jardim Botânico, está sem água e sem voz.

Para quando a recuperação deste lago e das cascatas de água que o alimentavam? Quantos mais anos de secura e mudez para o Lago de Baixo? Para quando o fim deste castigo injusto?

Imagem do ínício do séc. XX de fotógrafo não identificado.

Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/

quinta-feira, 19 de junho de 2008

AS ÁRVORES E A CIDADE: a Magnolia grandiflora da Praça de Londres



A Magnólia é uma árvore frondosa nativa da Virgínia, no sudeste dos Estados Unidos. Foi introduzida na Europa no século XVIII pelo seu valor estético.

De folhas perenes, coriáceas e brilhantes, tem uma copa densa, formando uma cúpula que pode alcançar os 18 metros de altura. Produz grandes flores brancas, muito aromáticas, com cerca de 25 cm de diâmetro. Estas famosas "flores gigantes", raras em árvores de grande porte, começam a surgir no final da Primavera. A dádiva de flores apenas termina com o aproximar do fim do Verão.

Em Lisboa existem Magnólias em vários jardins públicos e privados, incluíndo o Jardim Botânico. Mas hoje destacamos o formoso exemplar no jardim da placa central da Praça de Londres, plantado nos primeiros anos da década de 50 do século XX. Contornada diariamente por milhares de viaturas automóveis apressadas e distraídas, esta Magnólia passa talvez despercebida. Mas a generosa árvore com mais de 50 anos oferece, e apesar da distracção dos homens, as suas magníficas "flores gigantes" a quem as desejar ver e cheirar. A Magnolia grandiflora da Praça de Londres já está em floração!

Nome: Magnolia grandiflora L.
Família: Magnolia
Derivação do nome: Pierre Magnol (1638-1715) botânico francês.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

AS ÁRVORES E OS LIVROS: Ruy Belo


Árvore rumorosa pedestal da sombra
sinal de intimidade decrescente
que a primavera veste pontualmente
e os olhos do poema de repente deslumbra

Receptáculo anónimo do espanto
capaz de encher aquele que direito à morte passa
e no ar da manhã inconsequente traça
e rasto desprendido do seu canto

Não há inverno rigoroso que te impeça
de rematar esse trabalho que começa
na primeira folha que nos braços te desponta

Explodiste de vida e és serenidade
e imprimes no coração mais fundo da cidade
a marca do princípio a que tudo remonta

Ruy Belo

FOTO: Chorisia crispiflora vista da Classe do Jardim Botânico

terça-feira, 17 de junho de 2008

AS ÁRVORES E A CIDADE: os Jacarandás da Avenida 5 de Outubro




Alguns dos arruamentos de Lisboa estão arborizados com alamedas de Jacarandás. As Avenidas Novas, planeadas em 1888 pelo Engenheiro Ressano Garcia (1847-1911), são um bom exemplo.

Nesta altura do ano, quando o Jacaranda mimosifolia está em floração, estas avenidas e ruas transformam-se em abóbadas tingidas daquele azul distinto que os lisboetas bem conhecem. Pena é que a maior parte destas alamedas estejam actualmente ocupadas por estacionamento não permitindo assim uma plena fruição das árvores tal como foi pensado nos finais do século XIX.

Mas aproveitemos os últimos dias do espectáculo da floração dos Jacarandás. E sonhemos por mais ruas de Lisboa cobertas de copas azuis... os Amigos do Jardim Botânico estão já a pensar na vizinha Rua Nova de São Mamede, arborizada com Jacaranda mimosifolia.

As fotografias foram tiradas na placa central da Avenida 5 de Outubro, um dos maiores arruamentos de jacarandás de Lisboa, com cerca de 1800 metros de comprimento.

sábado, 14 de junho de 2008

EM FLORAÇÃO: Lagunaria patersonii


Os exemplares de Lagunaria patersonii estão em floração!
No Jardim Botânico podem ser vistos na Classe (em 1b e 14) e no arboreto, junto ao lago do meio, (no 20A). Convidamos todos a vir conhecer e apreciar este espectáculo da natureza.

Nome: Lagunaria patersonii (Andr.) G. Don
Família: Malvaceae

A Lagunaria patersonii é uma árvore de folha perene originária da Austrália, mais precisamente da Ilha de Norfolk e de Queensland. De tamanho médio e de crescimento lento, a Lagunaria pode atingir entre 10 a 15 metros de altura. De belo porte, destaca-se pela sua folhagem de cor glauca. As folhas são inteiras, de forma oval e com 7,5 / 10 cm de comprimento. No periodo da floração, que ocorre no final da Primavera / início do Verão, a copa cobre-se de atraentes flores solitárias cor-de-rosa com 5 pétalas.

O clima de Lisboa e Sul de Portugal é adequado para a Lagunaria: gosta de sol e é tolerante à seca. Gostariamos de ver esta árvore a ser usada como árvore de alinhamento nos arruamentos da capital. Para o clima do norte de Portugal é um pouco delicada pois sofre com as geadas.

Derivação do nome do género/espécie: Andrea Laguna (1494-1560), botânico espanhol / William Patterson (1755-1810), naturalista inglês.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

FERNANDO PESSOA: nasceu há 120 anos


NÃO SEI SE É SONHO

Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.

Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.

Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nessa terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali
Que a vida é jovem e o amor sorri.

Fernando Pessoa (1888-1935)

Com este poema os Amigos do Jardim Botânico associam-se às comemorações dos 120 anos do nascimento do poeta. Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888 no 4º andar do nº 5 do Largo de São Carlos em Lisboa. Tal como nós, também ele amava as árvores e os jardins. Numa das suas obras o poeta descreveu o Jardim Botânico como "conjunto de uma magnificiência edénica" (Lisbon: what a tourist should see).

FOTO: Rua das Palmeiras do Jardim Botânico vista da Classe

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Plataforma por Monsanto preocupada com impactos negativos do Festival Deltatejo


«Plataforma por Monsanto manifesta preocupação pela realização do festival DELTATEJO no Parque Florestal de Monsanto em Lisboa.

O Parque Florestal de Monsanto é uma zona ecologicamente muito sensível e de grande importância para a cidade. É um local que oferece já uma quantidade muito razoável de actividades aos visitantes e é um espaço que deveria ser preservado e protegido. É um local público cada vez mais procurado para uma fruição livre e saudável pelos cidadãos.

Devido à sua beleza e centralidade está sujeito a grandes pressões de ocupação e tem sido ao longo dos tempos alvo de tentativas (algumas concretizadas) de construção e colocação de diversos equipamentos. As tentativas mais recentes foram, entre outras, a colocação no parque da feira popular e do hipódromo do campo grande ou a renovação do contrato com o Campo de tiro a chumbo. Felizmente, e devido à pressão de uma opinião publica cada vez mais atenta e da Plataforma por Monsanto estas pretensões não foram concretizadas.

As actividades realizadas em Monsanto devem reger-se pelo estrito respeito pela natureza e pelos ecossistemas existentes não devendo a CML permitir ou promover actividades causadoras de profundos impactos negativos na fauna e flora do parque e causando inconvenientes aos cidadãos que diariamente frequentam aquele espaço público. As actividades promovidas no parque devem ter em conta sempre a fragilidade e extremo interesse ecológico do local e não devem ser autorizadas actividades que de alguma forma o possam destruir ou fragilizar.

Dentro deste contexto é com enorme preocupação que a Plataforma por Monsanto vê a realização do Festival DELTATEJO neste parque florestal da cidade de Lisboa, ocupando o espaço público com actividades com objectivos puramente económicos, de grande envergadura, com todos os impactos negativos que daí advêm e pelo facto de este festival abrir o precedente para que outros, similares ou de ainda maior dimensão, aí possam vir a realizar-se.»

Lisboa, 11 de Junho de 2008

A Plataforma por Monsanto

FOTO: Pérgola e lago no Miradouro de Montes Claros. Parque Florestal de Monsanto, c.1950. Fotógrafo não identificado.

Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

quarta-feira, 11 de junho de 2008

PARQUE MAYER coloca antigos directores contra reitor


in PÚBLICO, 8 de Junho de 2008, por Ana Machado

«Galopim de Carvalho redirecciona acusações do reitor da universidade para as tutelas políticas»

«O geólogo Galopim de Carvalho e o físico Fernando Bragança Gil, antigos directores dos museus de História Natural e de Ciência da Universidade de Lisboa, que formam o núcleo museológico da Politécnica, acusam o reitor da Universidade, António Nóvoa, de estar a "apontar baterias aos museus que dirige" e de "não ter em conta as recomendações" de quem conhece os museus no âmbito da requalificação do espaço, incluído no concurso de ideias do Parque Mayer.

Em resposta a uma Carta Aberta, subscrita por mais de 200 assinantes, o reitor confessa "dificuldade em compreender como se chegou a uma situação de incúria e de abandono", no núcleo museológico, que reconhece como "o mais importante património histórico-universitário, museológico e ambiental da cidade". O reitor incute responsabilidades sobre o estado do espaço a "incapacidades e incompetências, de uma lógica de protecção de pequenos interesses e de protagonismos pessoais (...)", e a uma "completa ausência de visão estratégica." E conclui lembrando que a requalificação do espaço da Politécnica, cujos museus e Jardim Botânico, espaços de investigação e divulgação científicas, foram eleitos "prioridades centrais do mandato".

Em documento assinado a 26 de Maio, Galopim de Carvalho e Bragança Gil acusam os sucessivos governos da "situação de abandono consentida "do núcleo museológico e lembram que nos seus mandatos, (1984/2003), denunciaram em vão a situação.

"O reitor confessa a sua dificuldade em compreender como se chegou a uma tal situação de incúria e abandono. Convém aqui lembrar que o autor deste desabafo foi vice-reitor no último mandato do Prof. José Barata Moura. (...) Ninguém lhe ouviu uma voz a denunciar essa mesma situação", afirmam os subscritores. Rejeitando as acusações, Galopim de Carvalho e Bragança Gil denunciam ainda a própria Faculdade de Ciências, que "esqueceu a casa que lhe deu berço" e de onde só saiu na década de 70 para o complexo do Campo Grande, mas onde ainda permanece com algumas unidades de investigação."

A quem se dirige o reitor quando apela à capacidade de indignação? E contra quem? Contra os responsáveis destes museus, ou contra os políticos que nos têm tutelado? Parece-nos que em vez de apontar as suas baterias aos museus que tutela, o magnífico reitor devia apontá-las com idêntica frontalidade aos sucessivos governos que nunca quiseram ou souberam ouvir", remata o documento.»

FOTO: parte do Arboreto do Jardim Botânico visto do Parque Mayer; à direita, fachada de tardoz do Capitólio.

terça-feira, 10 de junho de 2008

O JARDIM BOTÂNICO HÁ 100 ANOS


Família lisboeta na Classe do Jardim Botânico, a passear junto ao Lago e do Observatório Astronómico.

Imagem do ínício do séc. XX do fotógrafo Paulo Guedes (1886-1947).

Fonte: Arquivo Fotográfico Municipal

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt

segunda-feira, 9 de junho de 2008

AS ÁRVORES E OS LIVROS: Jorge Sousa Braga


As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga
FOTO: Arboreto do Jardim Botânico visto da Classe

domingo, 8 de junho de 2008

Concurso de Ideias Parque Mayer / Jardim Botânico: Memorando da Liga dos Amigos do Jardim Botânico


Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa:

A LIGA DOS AMIGOS DO JARDIM BOTÂNICO

Vem apresentar junto de V. Exa., no âmbito da Exposição " Concurso de Ideias para o Parque Mayer, Jardim Botânico e Edifícios da Politécnica e Zona Envolvente ", o seguinte memorando:

-Considerações gerais
-Considerações sobre o Jardim Botânico e os Edifícios Museológicos da Politécnica
-Considerações sobre a relação do Jardim Botânico com o Parque Mayer
-Oposições e recomendações
-Considerações sobre a relação do Jardim Botânico com os vizinhos

1. Considerações gerais
Considerando que Portugal necessita de aumentar a cultura científica dos seus cidadãos como uma das condições de desenvolvimento (é dos países da Europa com um dos maiores défices de cultura científica);
- Considerando que os portugueses precisam de alterar os actuais comportamentos insustentáveis (são dos cidadãos da União Europeia com maior pegada Ecológica);
- Considerando que a cidade de Lisboa é uma das capitais da Europa com menos metros quadrados de espaços verdes por habitante;
- Considerando que qualquer projecto de densificação do tecido urbano deste macro-quarteirão vai inevitavelmente aumentar-lhe a temperatura do ar;
- Considerando que os projectos de habitação de luxo se traduzem num aumento significativo do número de viaturas de transporte individual (com consequente acumular de emissões poluentes e temperatura);
- Considerando que a actual primazia das viaturas de transporte individual na maioria das deslocações dentro da capital penaliza gravemente a qualidade de vida dos lisboetas, resultando em parte, da oferta de transportes públicos muito deficiente (a importância do transporte individual na região de Lisboa aumentou de 26% para 46% entre 1991 e 2001).

2. Considerações sobre o Jardim Botânico e os edifícios museológicos da Politécnica
O que é um Jardim Botânico? Um Jardim Botânico é um museu vivo. As plantas aí cultivadas constituem uma colecção destinada a cumprir uma missão: ensinar e investigar Botânica e conservar espécies.
De que se compõe o Jardim Botânico do Museu Nacional de História Natural?
Para além da colecção exterior enraizada, o Jardim Botânico tem: estufas (umas abertas ao público, outras para viveirismo e investigação), viveiros, banco de sementes, laboratórios, museu botânico – colecções de frutos (carpológica), sementes (seminário), madeiras (xiloteca), artefactos botânicos, herbários, biblioteca, painéis didácticos, mapas, gabinetes de direcção, de investigadores e técnicos, secretaria, espaço educativo e anfiteatro.
Um Jardim Botânico do futuro – De que equipamentos devem estar munidos os Jardins Botânicos? A Liga dos Amigos do Jardim Botânico alerta para as deficiências / problemas do Jardim Botânico.
Para cumprir a sua missão o Jardim Botânico precisa dos seguintes equipamentos a curto e médio prazo:
- Centro de Acolhimento (inexistente) onde os visitantes encontrem um espaço com galeria de interpretação, bengaleiro, sanitários, recursos de acessibilidade, etc;
- Museu da Botânica (inexistente) - Espaços para exposições permanentes ou temporárias - tanto estufas como salas no edifício principal;
- Biblioteca Botânica - A rica biblioteca do Jardim Botânico, onde se incluem publicações e manuscritos desde o século XVIII, necessita de espaço próprio e condigno que possibilite conservar e consultar o seu acervo;
- Herbários - Inexistência de uma área de preparação independente do acervo, com um espaço intermédio de desinfestação de modo a prevenir infestações;
- Seminário - Inexistência de espaço próprio para armazenamento e conservação de sementes;
- Banco de sementes - O actual é demasiado pequeno. Com possibilidade de albergar, processar e investigar um maior acervo;
- Estufas modernas - A actual é obsoleta e está degradada. É essencial para a investigação e actractibilidade do Jardim, ficando independentes de condições climáticas adversas, podendo assim ser visitadas durante todo o ano;
- Espaços de trabalho para investigadores residentes e visitantes (inexistentes ou inadequados);
- Viveiro maior e bem equipado;
- Área de jardim para plantas autóctones e área didáctica hands-on para ciranças (inexistentes);
- Escola de Jardinagem (inexistente);
- Restaurante, cafetaria e lojas para apoio aos visitantes (inexistentes);
- Espaço de descanso e estada dos visitantes, adultos e crianças (inexistente);
- Espaços educativos adequados a grupos de diversas faixas etárias e necessidades de acesso (inexistentes ou inadequados);
- Espaços de acolhimento de voluntários, da Liga dos Amigos do Jardim Botânico e outras ONGs; - Auditório para debates públicos com desenho que permita a interacção mais simétrica entre cientistas e cidadãos (a forma dos auditórios actuais destina-os a conferências e aulas);

A Liga dos Amigos do Jardim Botânico gostaria que o Plano de Pormenor preparasse o actual Jardim Botânico para se tornar num importante centro de investigação e educação ambiental para a capital e o país. Para cumprir essa missão é preciso manter a ligação formal e funcional do Jardim com o edifício principal, consubstanciando a unidade Jardim Botânico e Museu Nacional de História Natural, de que faz parte. Precisa também de equipar devidamente o Jardim Botânico de forma a fazer dele uma instituição botânica relevante para a sociedade portuguesa e equiparável aos seus congéneres a nível europeu e mundial.

3. Considerações sobre a relação do Jardim Botânico com o Parque Mayer
Aplaudimos a decisão da CML de incluir a componente jardim no Parque Mayer. Gostaríamos que essa componente jardim constituísse uma ligação conceptual com o Jardim Botânico, complementando a colecção do Jardim Botânico e criando no Parque Mayer um espaço verde com espécies da Flora de Portugal.
Chamamos a atenção que existem 10 salas de espectáculos num raio de cerca de 500 metros do Jardim Botânico-Parque Mayer e que algumas delas apresentam grande valor patrimonial. Por outro lado, as que estão actualmente preparadas para funcionar, não têm na maioria dos casos um programa de actividades culturais e/ou recreativas para todo o ano.

Não desvalorizando a vocação recreativa do Parque Mayer, esta pode ser complementada pela vocação histórica do Jardim Mayer original, implantando aí um jardim de flora autóctone de espécies xerofíticas, numa interface com o Jardim Botânico; uma escola de Jardinagem, um teatro ao ar livre, assim como por exemplo, um auditório de debate entre cidadãos, espaços para sedes de instituições públicas ou privadas, ligadas à conservação e defesa do ambiente bem como à educação para a cidadania.

4. Oposições e recomendações

A Liga dos Amigos do Jardim Botânico manifesta a sua oposição:
- À alienação de imóveis com valor histórico-científico localizados dentro do Jardim Botânico;
- À alienação de partes dos Edifícios da Politécnica para usos não consentâneos com a sua missão (ex: demolição da estufa para construção de um hotel);
- À ocupação de terrenos do Jardim Botânico com novas construçôes permanentes (ex: destruição dos viveiros para construção de edifício);
- À construção de novos edifícios permanentes nos logradouros e jardins, incluídos na Zona Especial de Protecção do Jardim Botânico (Monumento Nacional). Como Monumento Vivo de natureza frágil, todos os logradouros e jardins na sua envolvente, devem ser tratados como " zona tampão " do Jardim Botânico, protegendo a hidrologia e por consequência a saúde e sobrevivência deste ecossistema;
- Ao rasgamento de novos arruamentos, para construção de novas frentes urbanas, nos logradouros dos imóveis da Rua do Salitre, Rua da Alegria, Calçada da Patriarcal e Rua da Escola Politécnica;
- Ao atravessadiço do Jardim Botânico e/ou dos logradouros na sua envolvente, por funiculares ou elevadores (que em algumas propostas teriam estações dentro do próprio Jardim Botânico);
- À multiplicação de pontos de entrada do Jardim Botânico a que corresponderá uma multiplicação dos problemas de segurança das colecções vivas do Jardim Botânico;
- À construção em altura na envolvente do Jardim Botânico, com impactos negativos na radiação incidente e na circulação do ar;
- À construção de parques de estacionamento subterrâneo nos logradouros e jardins, incluídos na Zona Especial de Protecção do Jardim Botânico (50 metros a contar do muro pombalino do jardim).

A Liga dos Amigos do Jardim Botânico recomenda:

- Que a componente " Espaço Verde " do novo Parque Mayer seja alargada, mais assumida e genuína e que não se reduza a edifícios com coberturas de terraços ajardinados sem viabilidade para o crescimento de árvores. Lisboa tem no Parque Mayer a sua última oportunidade para criar um jardim no centro histórico da capital;
- Que a segunda fase de preparação do Plano de Pormenor contemple uma estratégia para os transportes públicos dentro e fora do macro-quarteirão em estudo, como por exemplo a reposição da prometida carreira do eléctrico 24 (Cais do Sodre-Campolide, via Rua da Escola Politécnica). Com a melhoria da oferta de transportes publicos, aliada a uma requalificação dos arruamentos na perspectiva do peão em vez da dos automobilistas (alargamento dos passeios, criação de mais passadeiras), será possível aos lisboetas adoptarem modelos de mobilidade mais sustentáveis. Este Plano de Pormenor deve abandonar o actual modelo insustentável da criação de parques de estacionamento subterrâneo no centro da cidade (privilegiando a direcção de mobilidade e não de tráfego);
- Que se respeite a margem de 50 metros de protecção non edificandi no exterior da cerca pombalina, acautelando alterações de circulação e qualidade do ar, de radiação incidente e de hidrogeologia;
A Liga dos Amigos do Jardim Botânico gostaria que este Plano de Pormenor fosse também o momento para a urgente qualificação e ordenamento das ocupaçôes ilegais e impermeabilizaçôes dos logradouros em redor do Jardim Botânico. Para garantir a correcta preservação do Jardim Botânico é essencial libertar o máximo possível de solos actualmente impermeabilizados e ocupados com construçôes permanentes com consequências graves para os recursos hídricos.

5. Considerações sobre a relação do Jardim Botânico com os vizinhos
A desqualificação do enquadramento urbano do Jardim Botânico dado pelas ocupações caóticas dos logradouros da Zona Especial de Protecção constituem também motivo de grande preocupação da Liga dos Amigos do Jardim Botânico. Os interesses imobiliários da vizinhança serão tanto mais valorizados quanto mais este património (Jardim Botânico e Edifícios dos Museus da Politécnica) for preservado, enriquecido e enobrecido como monumentos nacionais, instituições e paisagem de interesse histórico e científico para Lisboa e para o país.

Em conclusão:
A Liga dos Amigos do Jardim Botânico espera que este Plano de Pormenor se afirme pela mudança de paradigma do planeamento da capital.
Preocupa-nos que, de uma forma geral, as cinco propostas vencedoras apresentem uma tendência para amputar o Jardim Botânico e os edifícios dos Museus das suas funções e usos.
A cidade de Lisboa está perante uma oportunidade única para finalmente colocar este macro-quarteirão em sintonia com o Jardim Botânico que é, sem dúvida, o elemento mais valioso deste conjunto, razão pela qual foi reconhecido pelo estado português como Monumento Nacional.
Julgamos, com este memorando poder dar o nosso contributo para o conhecimento e enriquecimento das propostas a apresentar.
Mostramo-nos desde já inteiramente disponíveis para todo e qualquer esclarecimento e colaboração cívica que julgar necessários.

NOTA: Memorando enviado pela Liga dos Amigos do Jardim Botânico ao Presidente da CML no dia 2 de Maio de 2008

BEM VINDOS!

A Liga dos Amigos do Jardim Botânico abre hoje este novo forum de comunicação. Ideias, desejos, críticas, elogios, colaborações, ajudas, todos serão bem vindos aqui. Esta será também uma plataforma de intervenção cívica da LAJB.
FOTO: A colina do Castelo vista através do Arboreto do Jardim Botânico