Decisões tomadas com base na ignorância, levam a acções criminosas e à perpetuação dos estereótipos nos cidadãos.
Os jardins históricos da cidade de Lisboa não podem depender das Juntas de Freguesia. Um Presidente de uma Junta de Freguesia, tem que ter, de preferência, ou fazer-se acompanhar, de alguém, que tenha conhecimento sobre o que é uma árvore, árvore de grande porte/monumental, um jardim histórico, como se avalia o estado de saúde de uma árvore, como se trata. Caso contrário não deve poder ter a ambição de um cargo público que é responsável pelo património que é de todos nós, os que cá estamos, e os que hão-de vir.
In O Corvo, 22-10-2015
O corte de três tílias no Jardim das Amoreiras, iniciado nesta terça-feira (20 de Outubro), está a ser fortemente criticado pelos membros da Plataforma em Defesa das Árvores, que vêem na operação um “crime ambiental”. O abate das árvores, realizado por uma empresa ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa (CML), a pedido da Junta de Freguesia de Santo António, acontece na sequência dos danos causados pelo vendaval ocorrido na noite de sexta-feira para sábado passados. O mau tempo fez com que a árvore de maior porte não resistisse às rajadas de vento, partindo-se e caindo em cima das outras, mais pequenas, que terão ficado com a sua estabilidade comprometida.“A árvore grande tinha fungos no seu interior e, além disso, o piso onde estava encontrava-se remexido, logo sem a devida sustentação. Com os ventos fortes, torceu, partiu e caiu em cima das outras. Não podíamos, por isso, fazer outra coisa que não fosse o corte das árvores, que estavam a colocar em perigo a segurança das pessoas”, diz ao Corvo Vasco Morgado (PSD), presidente da Junta de Freguesia de Santo António, explicando que a situação causou ainda uns arranhões menores numa viatura ali estacionada. Não se registaram danos humanos, mas foi criada um quadro potencialmente perigosa. Foi por isso que a junta decidiu avançar para o corte das referidas árvores, por uma mera questão de segurança. Pediu então a intervenção dos serviços da CML, a quem reembolsará os custos.
“Não posso arriscar numa situação destas. Não vou pôr em risco a vida das pessoas, sabendo que pode haver perigo de queda. Prefiro cortar as árvores e lidar com as críticas”, diz o autarca, ciente de que uma operação deste tipo causa sempre apreensão por parte de algumas pessoas. “Encaro isso com naturalidade. É sinal de que as pessoas estão preocupadas com a sua cidade. Mas prefiro receber um telefonema de alguém descontente com o abate das árvores, do que ter uma chamada dando conta de uma situação trágica”, afirma Vasco Morgado, lembrando que operações deste tipo são sempre sustentadas em pareceres técnicos.
Um argumento que não parece ser suficiente para os elementos da Plataforma em Defesa das Árvores – grupo formado, na primavera passada, por diversos cidadãos e associações, como a Associação Lisboa Verde, Quercus, o Geota, Fórum Cidadania LX, Grupo dos Amigos do Príncipe Real, entre outros, na sequência de um conjunto de podas realizadas um pouco por toda a cidade. “É muito, muito grave o que se está a passar no Jardim das Amoreiras, aquele que era um dos últimos refúgios para árvores na cidade de Lisboa, a alegada queda de um ramo não pode justificar o abate de árvores centenárias sem que se apresentem quaisquer justificações ou avisos e muito menos ser pretexto para que se abatam mais…”, lê-se num post colocado, na manhã de quarta-feira (21 de Outubro), no blogue da plataforma.
No referido artigo, de apenas um parágrafo e escrito na primeira pessoa do singular – apesar de assinado pela Plataforma em Defesa das Árvores -, diz-se ainda: “Sinto uma tristeza imensa em viver numa cidade que nada faz para evitar crimes ambientais destes, e lamento que os moradores daquele jardim permitam atrocidades destas. São afinal eles também responsáveis pelo que se está a passar”. Mas um dos moradores de um rés-do-chão situado mesmo em frente a uma das árvores, ontem ouvido pelo Corvo, dizia concordar com o abate. “Quem faz essas críticas devia cá estar quando o vento derrubou a árvore”, afirmou, dizendo que os moradores se sentem agora mais seguros.
A forte contestação às operações de poda e corte do arvoredo levadas a cabo, na primavera passada, pelas juntas de freguesia – agora com competências nessa área, na sequência do processo de descentralização de competências -, mas também pela CML em alguns casos, originou não apenas o nascimento da plataforma como uma promessa de alteração de procedimentos neste campo por parte da câmara. O novo Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa esteve em consulta pública até 30 de Setembro e deverá ser, em breve, conhecida a sua configuração final. Uma primeira versão havia sido levada a discussão camarária e retirada por não ter sido sujeita ao parecer das juntas de freguesia.
O projecto do regulamento sujeito a discussão pública prevê que as operações de abate, transplante ou outras que possam vir a fragilizar a árvore sejam sempre alvo de parecer vinculativo da CML. A excepção a tal obrigatoriedade surge face a “árvores que representem um risco para pessoas e bens atento o seu estado de conservação fitossanitária”. Aí, as juntas de freguesia poderão sempre invocar tratar-se de uma emergência e procederem ao corte. Apesar de o regulamento não estar ainda em vigor, a intervenção agora realizada pela Junta de Freguesia de Santo António no Jardim das Amoreiras poderia ser justificada ao abrigo deste regime excepcional.
http://ocorvo.pt/2015/10/22/abate-de-tilias-no-jardim-das-amoreiras-e-um-crime-ambiental-dizem-activistas/
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