quinta-feira, 2 de abril de 2009

Lavar as ruas, como previsto para a Avenida da Liberdade, não reduz partículas...

«Especialistas que analisam os efeitos do clima no planeamento urbano revelaram hoje que a lavagem de ruas, como está previsto para a Avenida da Liberdade, não tem influência na redução de partículas necessária para baixar a poluição do ar.

A lavagem do corredor Marquês de Pombal/Restauradores, duas vezespor dia, é uma das medidas previstas no protocolo assinado entre a Câmara de Lisboa e a Comissão de Coordenação de Lisboa e Vale do Tejo para reduzir a poluição do ar na Avenida da Liberdade, que ultrapassa várias vezes por ano os valores limite. "Também foi tentado na Alemanha e é uma medida que não resultou", disse Ulrich Reuter, da equipa de planeamento urbano da cidade de Estugarda. Para Ulricht Reuter, esta medida "não é prática", uma vez que "pode trazer congestionamento de tráfego enquanto se lava". "Está provado que a lavagem não tem efeito na concentração de partículas", afirmou. "As medidas mais eficientes são a proibição do tráfego de atravessamento - quem atravessa apenas aquela zona não pode passar -, o que se provou retirar entre três a cinco por cento das partículas", acrescentou.

Ulricht Reuter disse ainda que outra das medidas eficazes para reduzir a poluição é evitar aumentar a altura dos edifícios, já que quanto mais altos forem mais impedem a ventilação na cidade. O especialista, que falava durante o encontro que a Agência Municipal de Energia (E-Nova) promove hoje sobre os desafios do planeamento urbano sustentável, deu ainda como exemplo outra das medidas aplicadas na Alemanha: impedir a circulação a veículos com maiores níveis de poluição do ar (com excepções para o abastecimento de lojas/restaurantes e veículos de emergência).

Estas limitações de tráfego também estão previstas no protocolo entre a Comissão de Coordenação e a Câmara de Lisboa para melhorar a qualidade do ar na cidade, assim como a criação de novos corredores BUS e a elaboração de planos de mobilidade para alguns edifícios com muita concentração de pessoas.

Por seu lado, o presidente do Conselho de Administração da E-Nova, José Domingos Delgado, sublinhou que "o grande problema de Lisboa são as partículas poluentes no ar", muitas transportadas de outros locais pelo vento. "Em Lisboa também foram identificadas partículas vindas do Norte de África" afirmou, sublinhando a importância de uma intervenção integrada nesta matéria. "A emissão de CO2 é a febre. Temos é de combater a doença", disse Domingos Delgado, que é professor jubilado do Instituto Superior Técnico e fez parte do grupo consultivo e de apoio ao Plano Energético Nacional. O responsável da E-Nova lembrou ainda um dos paradoxos do sistema português: "Favorece-se os motores a diesel e penaliza-se os veículos que mais partículas emitem, mas esquecemo-nos que os motores diesel conseguem ser mais eficientes no consumo porque trabalham a altas temperaturas, o que resulta num aumento de determinadas partículas, como o óxido de azoto".

Sobre a lavagem de ruas para ajudar a reduzir a poluição, o presidente da E-Nova lembrou que em Lisboa ela ainda é feita com água potável, nalguns casos. "Só espero que isto não resulte nalguns subsídios para se lavar a rua comágua mineral", gracejou, provocando uma gargalhada na plateia.» in Lusa

FOTO: Avenida da Liberdade em 1960 por Armando Seródio (1907-1978). Arquivo Fotográfico Municipal

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