domingo, 28 de setembro de 2008

Verão pode durar seis meses daqui a 50 anos

in Expresso, 28 de Setembro de 2008

Especialistas analisam mudanças climáticas

A tradição já não é o que era. Em Portugal, o calor está a chegar antes e permanece depois da estação acabar. Mas as boas novas para os veraneantes constituem um perigo para as economias e para a saúde pública.

Os amantes do bom tempo vão bater palmas, mas as consequências não são de aplaudir. A Primavera em Portugal já tem mais dez dias e o Verão prepara-se para durar cinco ou seis meses daqui por 50 anos.

O período legal de época balnear, que começa a 1 de Junho e termina terça-feira, pode ser forçado a uma revisão por causa do aumento da temperatura e da diminuição da chuva, que atraem cada vez mais banhistas à costa portuguesa fora das épocas tradicionais.

"Com o aumento da temperatura média, o que nós chamamos o tempo de Verão vai prolongar-se. Daqui a 50 anos, em vez de dois ou três meses de Verão, vamos ter cinco ou seis", afirma o especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos, em declarações à Lusa.

Em Portugal, o calor está a chegar antes do Verão e permanece depois da estação acabar: "A temperatura de conforto para ir à praia, que é de 21 ou 22 graus, está a registar-se em mais dias do ano", diz o coordenador científico dos centros de investigação do Instituto de Meteorologia, Pedro Viterbo.

As estatísticas dos últimos 20 anos indicam que o aumento de temperatura é da ordem dos 0,47 graus por década e que a temperatura máxima tem subido durante o Verão (21 de Junho a 21 de Setembro).

Recuando até 1931, verifica-se que os seis anos mais quentes até 2000 ocorreram nos últimos 12 anos do século XX, sendo 1997 o que registou mais calor.

A subida dos termómetros chega assim cada vez mais cedo. Começa a ser em Maio, e já não em Junho, que os veraneantes visitam a praia pela primeira vez no ano.

"Como a variação entre Maio e Junho é de um grau a um grau e meio, pode dizer-se que a temperatura de conforto para ir à praia está a ser antecipada", explica o investigador do Instituto de Meteorologia.

Também na chuva se registam alterações, que os investigadores estimam agravar-se nas próximas décadas, prevendo-se que se concentre mais no Inverno e deixe de ser tão distribuída ao longo do ano.

É com base nas alterações de precipitação e temperatura, também características de cada estação do ano, que Pedro Viterbo revela que nem na meteorologia a tradição é o que era.

"A transição do Inverno para a Primavera [a 21 Março] tem acontecido mais cedo, cerca de dez dias a meio mês", afirma o investigador de meteorologia. Portugal tem registado uma quebra nos níveis de precipitação da ordem dos 80 milímetros por ano e é sobretudo em Março que a diminuição tem sido mais notada.

"Uma das diferenças entre o Inverno e a Primavera é precisamente a precipitação. O final do Inverno tem registado menos chuva, logo pode dizer-se que há uma antecipação da Primavera em uma ou duas semanas", explica Pedro Viterbo.

Esta alteração das estações do ano é apenas meteorológica, pois o que as caracteriza é a duração dos dias e noites, que aumentam ou diminuem ao longo do ano consoante a inclinação do eixo da Terra face ao Sol.

A mudança do clima verifica-se em todo o mundo, estando os cientistas convictos de que é uma consequência da acção poluidora do Homem, nomeadamente no sector dos transportes.

As últimas previsões da comunidade científica apontam para um aumento da temperatura entre os 1,9 e 4,6 graus nas próximas décadas, uma maior frequência das ondas de calor e uma subida do nível do mar agravada pelo derretimento de gelo do Pólo Norte.

Os governos começam agora a estudar estratégias de adaptação às alterações climáticas, reconhecendo que as boas novas para os veraneantes constituem um perigo para as economias e para a saúde pública.

FOTO: Montado de Quercus suber (Sobreiro) no Alentejo.

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