segunda-feira, 30 de agosto de 2010

«Associação sugere criação de museu e visitas para recuperar farol do Bugio»

A Associação Espaço e Memória, de Oeiras, sugere a criação de um museu e a organização de visitas guiadas no Verão ao "degradado" farol do Bugio, para recuperar e aproveitar aquele espaço com mais de 400 anos de história.

Numa visita guiada organizada pela associação, mediante autorização da Direcção-Geral de Faróis, é possível ver brechas na estrutura, antigos instrumentos ferrugentos e esquecidos, e entulho acumulado naquilo que eram, antigamente, as casas dos faroleiros e na capela do farol.

"O que justifica a existência do Bugio não está lá como demonstrativo a quem o visite, porque enquanto espaço de fortificação é preciso puxar muito pela imaginação para compreender o que se lá passava, e enquanto farol já não tem faroleiros, nem está lá o que fazia parte do seu quotidiano: as casas, os geradores, as comunicações", descreve Joaquim Boiça, presidente da associação, citado pela Lusa.Filho, neto e bisneto de faroleiros, Joaquim Boiça acredita que o Bugio "poderia ser, com a boa vontade de algumas instituições, um dos espaços mais emblemáticos para visitar na cidade de Lisboa".

A associação acredita que "nos meses de Primavera e Verão seria possível organizar visitas", de modo "a dinamizar aquele espaço, dar a conhecer e preservar parte das memórias que ainda lá estão, sobretudo na zona da capela". Joaquim Boiça defende "uma museografia diferente para aquele espaço, pensada para acolher exposições sazonais".

No entanto, lembra que, há dez anos, quando aquele farol foi alvo de obras de recuperação pela última vez, "o processo foi complicado": "Foi necessário sentar à mesa cerca de 20 instituições para recuperar o farol, que ameaçava ruir." Construído para defender a entrada de Lisboa, o forte do Bugio ficou concluído em 1657. Desde cedo começa a servir também de farol, albergando faroleiros até ao final da década de 80 do século passado.» In Público (30/8/2010)

Nota: o Jardim Botânico não está sózinho no seu cenário de abandono - é verdadeiramente lamentável que o património cultural da nossa cidade esteja assim votado ao esquecimento. Felizmente há cada vez mais movimentos cívicos de defesa do património!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lisboa em Agosto: Restelo

Fachada do Ministério da Defesa na Avenida ilha da Madeira, junto ao Estádio do Restelo e do Museu Nacional de Etnologia. Qual é o consumo de energia só em ar-condicionado deste edifício do Estado? Porque razão não foi feito ainda nenhum investimento em sistemas de arrefecimento mais amigos do Ambiente, com uma pegada ecológica menor? Porque é que este arruamento não tem mais árvores para ajudar a baixar o consumo de energia dos edifícios?

sábado, 21 de agosto de 2010

As Árvores e a Cidade: Pinheiros no Chiado

Que seria do Largo Barão de Quintela, no Chiado, sem as copas sempre verdes e as sombras dos pinheiros mansos? Seria um espaço urbano pobre, seco e deserto. Seria um espaço público desconfortável, hostil e árido como é a Praça da Figueira, por exemplo. Ainda estão ao sol implacável do verão muitos outros largos da nossa cidade. Aguardam pela vida que apenas as árvores podem dar a um espaço urbano.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Promover o uso dos transportes públicos"

4 perguntas a...

Pedro Gomes, investigador do Departamento do Ambiente da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

Quais as zonas com mais altos níveis de poluição do ar?
A situação mais grave é na área de Lisboa, logo seguida do Porto, porque são as zonas mais populosas e que têm mais tráfego automóvel. Depois surgem Braga e Coimbra, mas nada que se compare com Lisboa ePorto.

Que medidas se deve tomar para reduzir esses níveis?
Deve-se tomar todas as medidas para promover o uso do transporte colectivo em detrimento do individual. Por exemplo, nos principais acessos a Lisboa e Porto, uma das vias de rodagem deve ficar reservada para transportes colectivos, veículos eléctricos e viaturas com dois ou mais ocupantes, levando as pessoas a usar o transporte público ou apartilhar o carro próprio com outros. Desta forma, reduz-se o número de veículos em circulação. Também se deve criar mais faixas bus para dar prioridade aos transportes públicos e melhorar a sua atractividade.

E nas áreas mais sensíveis?
Nas zonas mais críticas, deve-se interditar o acesso a veículos que ultrapassem os limites de emissões poluentes, que normalmente são os mais antigos.

Que medidas de longo prazo?
É preciso aproximar as pessoas dos seus locais de trabalho e dar-lhes transportes públicos para não terem de usar o transporte individual. As novas urbanizações devem ser construídas perto de uma rede de transporte pesado, como o comboio.

in DN 13-8-2010

Foto: Eléctrico de nova geração no centro de Munique, considerada uma das cidades do mundo com melhor rede de Transportes Públicos. A LAJB, para além de defender mais e melhores Transportes Colectivos como única forma eficaz de reduzir o peso actual do Transporte Particular, tem vindo a lutar pela reposição do Eléctrico 24.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Encontro Património Natural e Cultural: Construção e Sustentabilidade

Quercus - GECoRPA - ICOMOS

18 Outubro - Fundação Calouste Gulbenkian

Na sequência da apresentação à imprensa do projecto, a Quercus, o Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do Património Arquitectónico (GECoRPA) e a Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS) disponibilizam mais informação sobre o "Encontro Património Natural e Cultural: Construção e Sustentabilidade", que se realizará a 18 de Outubro de 2010, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Nesta sessão introdutória, procurou-se também sensibilizar para a degradação do nosso património construído e natural desde o início do século XX, apresentando-se três exemplos que vão ser percorridos numa viagem de fotografias e outros elementos: Forte de Santa Apolónia, Praia de Algés e Serra da Arrábida, e ainda um excelente exemplo reconhecido de reabilitação, que é o próprio Laboratório Chimico onde teve lugar esta conferência de imprensa. Em anexo, pode ser consultada a apresentação feita sobre estes três locais.

O “Encontro Património Natural e Cultural: Construção e Sustentabilidade” tem o Alto Patrocínio de S. Exª. o Presidente da República e decorrerá a 18 de Outubro de 2010 na Fundação Calouste Gulbenkian, numa parceria com o Programa Gulbenkian Ambiente, onde participarão diversos convidados nacionais e internacionais.

Programa e Inscrições


Contactos

GECoRPA Tel: 213542336 Fax: 213157996

Foto: Que melhor exemplo do par «Património Natural e Cultural» do que o nosso Jardim Botânico?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Lisboa em Agosto: Marquês de Pombal

Lisboa, ainda com centenas de arruamentos sem árvores, está a ficar cada vez mais quente e por isso mais dependente de sistemas mecânicos de arrefecimento. No caso da Praça Marquês de Pombal, o túnel só veio contribuir para um aumento da temperatura desta zona urbana. Para além do abate de árvores, temos que considerar a impermeabilização feita numa grande área do arruamento. A pegada ecológica de Lisboa cresce... Para quando um sério investimento da CML na arborização de ruas da capital?

sábado, 14 de agosto de 2010

«Estacionamento ameaça liquidar horta popular»


Há mais de dez anos que um terreno camarário no bairro da Graça, em Lisboa, tem sido aproveitado por alguns populares para plantação de legumes. Mas há quem queira deitar tudo abaixo e construir ali um parque de estacionamento. A polémica está instalada.

O terreno em causa situa-se numa encosta junto ao cruzamento da Calçada do Monte com a rua Damasceno Monteiro, a cerca de uma centena de metros do Largo da Graça. É uma encosta onde o sol bate várias horas por dia, com três pinheiros mansos e duas oliveiras. Há mais de uma década que idosos do bairro da Mouraria – ali a poucos metros – aproveitam o pedaço de terra para fazerem uma pequena horta. Mais recentemente, jovens do Grupo de Acção e Intervenção Ambiental (Gaia), tomaram a iniciativa de colaborar com os populares e começaram, também eles, a plantar legumes vários.

Alguns moradores, todavia, parecem não gostar da ideia. “Aquilo é um mictório para levarem os cães”, diz José António, aposentado de 60 anos, que se mostrou bastante céptico com a utilidade da horta. “É uma brincadeira de meia dúzia de putos”, defendeu José António, comentando que “não se faz um cozido à portuguesa com as couves que lá estão”. Na sua óptica, o terreno devia ser utilizado para “um parque de estacionamento”. Tal opinião é corroborada pela proprietária de uma loja de têxteis situada a escassos metros do terreno. Maria de Fátima, 51 anos, admite que costuma lá ver “jovens que limpam o lixo que as pessoas lá metem” mas também defende a reconversão do espaço em estacionamento.

Já Gualter Baptista, investigador em Economia Ecológica na Faculdade de Ciências e Tecnologia, solta uma gargalhada quando ouve falar em parque de estacionamento no local, um espaço verde com magnífica uma vista panorâmica para a Baixa e o Tejo. “Naturalmente há pessoas que tem um sentido mais utilitarista e que querem estacionar o carro à porta de casa mas penso que Lisboa tem muitos mais lugares de estacionamento do que espaços verdes para os seus cidadãos”, afirma.

O investigador em economia ecológica admite que a horta nem sempre tem o melhor aspecto mas lembra que “somos um país com um défice hídrico muito elevado no Verão e é normal que a paisagem agora fique amarela”. Ressalva, porém, que há alturas do ano em que naquela horta “está tudo verde e arranjado”. "É um espaço que é dado aos cidadãos do bairro para que possam usufruir de forma activa”, afirma, sublinhando que ali existem casos de pessoas “necessitam da agricultura para sustentar as suas necessidades mais básicas e em tempos de crise, isso é importante”.

A opinião é confirmada por uma moradora da zona, Cátia Fernandes, de 33 anos. “Os agricultores são idosos da Mouraria que por vezes tem na horta a única fonte de legumes frescos, a par de jovens ambientalistas”, diz ao JN. Aliás, segundo este testemunho, “a horta devia ser incentivada pela própria Câmara e pelas Juntas de Freguesia”.

In Jornal de Notícias (12/8/2010)

Nota: A LAJB lamenta que a nossa cidade ainda tenha esta atitude mercantilista perante os espaços públicos livres; este modelo, quase obsessivo, de impermeabilizar os solos disponíveis para a construção de silos ou caves de estacionamento pertence ao passado. Lisboa já possui um grande número de praças e largos históricos completamente artificializados por via do estacionamento subterrâneo (ex: Praça da Figueira). É tempo de mudar para o paradigma da sustentabilidade - o do respeito efectivo pelo Ambiente.

Foto: Horta na sede da Junta de Freguesia da Graça

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

«Classificação do Jardim Botânico como monumento espera aprovação do Governo»

Processo de classificação começou há 40 anos e foi concluído há poucos meses. Projecto de decreto que consagrará o novo monumento nacional já foi elaborado no Ministério da Cultura.

O Jardim Botânico de Lisboa, criado em 1873, deverá ser em breve classificado como monumento nacional. Concluídos já na vigência deste Governo, que tomou posse em Outubro, os procedimentos prévios à classificação foram iniciados em 1970, ano em que aquele espaço da Rua da Escola Politécnica foi legalmente declarado "em vias de classificação".

De acordo com um porta-voz do gabinete de Elísio Summavielle, secretário de Estado da Cultura, o processo de classificação foi instruído pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) em articulação com a Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo. Uma vez terminado, o processo foi submetido à apreciação do secretário de Estado, em data que o seu gabinete não divulgou, seguindo-se a elaboração do projecto de decreto-lei que atribuirá ao jardim centenário a categoria patrimonial de monumento nacional, há muito esperada pelos seus responsáveis e amigos.

O próximo passo será a aprovação do decreto de classificação em Conselho de Ministros, tal como estipula a Lei do Património para o caso dos bens de "interesse nacional" - os bens de "interesse público" são classificados por portaria do Ministério da Cultura. A discussão do projecto no seio do Governo não tem ainda data marcada, dependendo o respectivo agendamento da Presidência do Conselho de Ministros. Após a sua aprovação, o decreto terá ainda de ser publicado no Diário da República.

Protecção já vigorava

Embora não estivesse ainda classificado, o jardim tinha sido declarado "em vias de classificação" por despacho governamental de Agosto de 1970, estatuto este que lhe concedia o mesmo tipo de protecção que decorre da classificação efectiva. Quer isso dizer que no seu interior nada podia ser feito ou desfeito sem autorização prévia do Igespar, o mesmo acontecendo num raio de 50 metros, a partir dos seus limites exteriores.

A lei estabelece que nestas zonas de protecção dos imóveis, conjuntos ou sítios classificados ou em vias de classificação não podem ser licenciadas quaisquer obras de construção, ou outras que alterem a topografia, os alinhamentos, altura, volumetria, coberturas e revestimentos sem parecer favorável do Igespar.

A salvaguarda da integridade do jardim face ao Plano de Pormenor do Parque Mayer, que a Câmara de Lisboa tem estado a discutir, tem preocupado a Liga dos Amigos do Jardim Botânico, que considerou aquele plano como "muito nefasto". A classificação do jardim era considerada uma prioridade para alguns dos seus defensores, que temiam a possibilidade de o processo iniciado há 40 anos caducar já no próximo ano, nos termos de uma lei publicada em Outubro do ano passado. in Público 12 Agosto 2010

Foto: detalhe da monumental Chorisia crispiflora

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Frutos do Jardim: CHAMAEROPS HUMILIS

Nome Científico: Chamaerops humilis
Família: Arecaceae
Nome vulgar: Palmeira-das-vassouras

Esta palmeira arbustiva cresce naturalmente nas encostas rochosas e arenosas da região mediterrânea ocidental. Tradicionalmente muito utilizada em cestaria e no fabrico de vassouras. É também muito cultivada em jardins como ornamental. Este belo exemplar, actualmente carregado de frutos, pode ser admirado na parte central do Arboreto do Jardim Botânico.

domingo, 8 de agosto de 2010

«Anthony Lanier - Um novo conceito urbano para Lisboa»

Com o Príncipe Real Urban Project, o empresário americano Anthony Lanier aposta não apenas na requalificação de edifícios históricos mas principalmente numa forma contemporânea de viver a cidade, onde o luxo, a cultura e a tradição conviverão lado a lado.

Nascido no Brasil, educado na Áustria, casado com uma portuguesa e residente nos EUA, o empresário Anthony Lanier, presidente da Eastbanc, tem uma visão muito peculiar do que é um empreendimento imobiliário em qualquer lugar do mundo. "A minha ideia é criar um brand, trazer valor para os empreendimentos. E é o ambiente que dá valor. Para o Príncipe Real quero trazer a ideia da cidade vivida de volta, a ideia de aldeia, de lugar de encontro numa sociedade global", diz Lanier, que desde 2007 tem em mãos um projecto revolucionário para esta área de Lisboa - o Príncipe Real Urban Project.

Considerado um visionário nos EUA e não só, Lanier ganhou uma reputação de distinção na sua carreira de empresário imobiliário ao recuperar Georgetown, em Washington (uma área da cidade que estava completamente degradada), transformando-a numa das zonas mais trendy da capital norte-americana. "Eu tento aproveitar o que está no local e fazer melhor. Os edifícios antigos são a verdadeira alma de uma cidade", comenta ele, que já recebeu a alcunha de "alquimista urbano".

A ideia central do Príncipe Real Urban Project envolve um mix de detalhes contemporâneos e estruturas históricas, com a recuperação e revalorização de 20 edifícios históricos e respectivos jardins, especialmente o Palacete Ribeiro da Cunha, o encantador edifício oitocentista em estilo neo-árabe defronte à Praça do Príncipe Real, que será o centro de todo o projecto."Inicio sempre um projecto com uma ideia grande, daí ter adquirido os 20 edifícios mais emblemáticos do bairro.

A minha abordagem na renovação urbana, seja em qual cidade for, é sempre de continuidade, é um processo que não tem fim. É esta a nossa especialidade e disto que gostamos", revela Lanier, dizendo que os lucros virão a seu tempo, não no curto prazo.

Com 50 milhões de euros já investidos na compra dos imóveis, Anthony Lanier prevê um investimento total de cem milhões de euros e espera arrancar com os trabalhos já em 2011, altura em que terá todas as licenças necessárias. "O vereador do urbanismo da CML, e também arquitecto, Manuel Salgado, entendeu o projecto desde o início e apoiou a ideia. Como as ideias são grandes, os processos são complicados, especialmente por causa da nossa peculiaridade de trabalhar em continuidade, num work in progress", disse ainda Lanier, mencionando que os arquitectos Eduardo Souto de Moura, Frederico Valsassina e Falcão de Campos também adoptaram esta nova visão de reurbanização.

"Queremos trazer as pessoas de volta para a cidade, oferecendo não só imóveis de alto nível mas também serviços variados e uma vivência urbana nova, onde a tradição convive lado a lado com a contemporaneidade", acrescenta ainda o empresário, que já está a apoiar a divulgação do bairro, com os eventos Príncipe Real Live, e a criar um cluster de artistas jovens das mais variadas áreas, que já se sediaram no bairro graças à estratégia de arrendamento temporário por ele criada. (in Diário de Notícias)

Foto: Palacete Ribeiro da Cunha - os seus jardins serão preservados ou impermeabilizados?

«Teixo, os dias do fim?»

Venenoso, todavia pleno de virtudes curativas, odiado por pastores e no entanto, avidamente procurado por multinacionais farmacêuticas, o teixo é, certamente, uma das mais extraordinárias, porém raras e ameaçadas, árvores da flora portuguesa.

"Por mim cortava-os todos", sentencia Manuel Sebastião, pastor sexagenário da aldeia de Parada, referindo-se aos inúmeros teixos de pequeno e médio porte que pontuam a encosta da Corga das Quebradas, na vertente oriental da serra do Gerês."

Se o gado lhes chega, não tem remédio, morre!", explica o pastor enquanto vai ajuizando dos malefícios do teixo sobre os animais. De facto, a elevada toxicidade do teixo (Taxus baccata), situação que advém da presença de um alcalóide venenoso em todos os órgãos desta árvore, a taxina, terá sido, provavelmente, um dos factores que mais directamente contribuiu para o declínio da espécie em Portugal ao longo dos últimos séculos, já que para proteger os animais domésticos de um eventual envenenamento, os pastores a foram eliminando dos tradicionais locais de pastoreio.

Actualmente, pouco resta dos magníficos bosques de teixos, as Teixeiras, que terão vegetado um pouco por toda a região montanhosa do norte e centro do país, sobretudo em áreas abrigadas, até aos 1500 metros de altitude. E nem a extrema resistência desta conífera à seca, às pragas e até aos incêndios, característica que a converteu numa das espécies mais longevas da nossa flora – podendo alcançar os 2000 e até 3000 anos! – obstou ao seu paulatino desaparecimento, confinando-se as últimas e escassas centenas de exemplares selvagens a locais húmidos, isolados e de difícil acesso nas serras do Gerês e da Estrela. Com efeito, só os incêndios do Verão de 2005 terão afectado directamente a quase totalidade da população de teixos do Parque Natural da Estrela, estimada em cerca de 500 exemplares, no que se tratou de um rude golpe na já reduzida população nacional de teixos.

Apesar desta situação de pré-extinção que tanto aflige os botânicos portugueses, tempos houve em que o teixo, uma árvore nativa da Eurásia, com origem algures no período Jurássico (entre 213 e 65 milhões de anos), ocupou lugar de destaque nas crenças de várias comunidades humanas. Na cultura celta, por exemplo, o teixo era venerado como árvore sagrada. Acreditava-se que encerrava propriedades mágicas porque mantinha a sua folhagem verde durante todo o ano, prolongando eternamente a vida do espírito. Também a história do cristianismo está intimamente ligada ao teixo, uma vez que, de acordo com alguns investigadores, o “lenho sagrado” (a cruz onde Cristo terá sido crucificado) foi feita a partir da sua madeira.

De resto, desde a mais remota antiguidade que a madeira de teixo, por ser forte, compacta, «elástica» e resistente à putrescência, tem sido utilizada por escultores e torneadores para o fabrico dos mais variados utensílios, como arcos, lanças, pipos, tamancos, utensílios de cozinha e até instrumentos musicais. As próprias amêndoas da semente do teixo, cujo invólucro globoso e coloração vermelha viva são uma das características distintivas desta planta, foram durante séculos utilizadas no fabrico de um óleo apreciado pelo seu sabor agradável. Mais recentemente, o teixo tornou-se alvo do interesse da indústria farmacêutica, pelo facto das suas folhas serem ricas em taxol, um agente anti-tumoral utilizado com sucesso no tratamento do cancro do ovário e da mama.

RELÍQUIAS CENTENÁRIAS

Em Portugal, são raros os teixos de grande porte. Ainda assim, é possível encontrar alguns exemplares, provavelmente plantados, com centenas de anos, facto que motivou a sua classificação como «Árvores de Interesse Público». É o caso do teixo de Tranguinha, o mais antigo conhecido em Portugal, e que se estima ter cerca de 700 anos de idade. Encontra-se na freguesia de Santa Maria (Bragança) e está classificado desde 1974. Cerca de 200 anos é a idade estimada do teixo que se encontra na Quinta do Senhor da Serra, na freguesia de Belas, em Sintra. Igualmente centenário é o teixo da Quinta de S. João, classificado em 2000 e localizado na povoação de Teixoso, na Covilhã.

Por último, duas referências curiosas. A primeira para dois imponentes teixos existentes na cidade de Lisboa, ambos localizados no Jardim Braancamp Freire e classificados em 1968 e 2000, respectivamente; a segunda para dois outros teixos de soberbas proporções, existentes no recinto da antiga Faculdade de Engenharia do Porto, na Rua dos Bragas, e que embora não se encontrem classificados, constituem exemplares dignos de nota.

Manuel Nunes
In Naturlink

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Desinfestação do Herbário e da Biblioteca

AVISO

Desinfestação do Herbário e da Biblioteca

Irá ter lugar entre 6 e 20 de Agosto próximos a desinfestação do Herbário de Plantas Vasculares e da Biblioteca do Jardim Botânico, com o seguinte faseamento:

Dia 6 de Agosto, 9:00h

Calafetagem das instalações a desinfestar. Fumigação no primeiro andar do Edifício dos herbários. Pulverização e nebulização do segundo andar (Biblioteca) e das salas dos primeiro e segundo andares do edifício dos herbários.

Dia 11 de Agosto, 9:00h

Início do arejamento das áreas desinfestadas.

Dia 20 de Agosto

Reabertura das instalações (se houver necessidade de prolongar o período de arejamento a reabertura só ocorrerá a 30 de Agosto).

PRECAUÇÕES: Retirar todo o equipamento informático, equipamento de precisão (lupas, microscópios, etc.), plantas vivas e animais das áreas a serem fumigadas. No segundo andar (Biblioteca) só é necessário retirar plantas vivas ou animais. A permanência de pessoas, plantas vivas ou animais está proibida em todo o edifício dos herbários entre 6 e 20 de Agosto.

Foto: O edifício do Herbário e Biblioteca do Jardim Botânico, um projecto de 1940 do Arquitecto Adelino Nunes.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Em Floração: EICHORNIA CRASSIPES

As atraentes flores dessa terrível planta que é o jacinto de água, Eichornia crassipes. Podem ser observadas num pequeno lago do Jardim das Cebolas.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

«Rolhas de cortiça ganham o direito a uma segunda vida»

02.08.2010 PÚBLICO

Mais de 40 toneladas de rolhas foram recicladas nos últimos cinco anos

Matéria prima também chega de fora, incluindo dos Estados Unidos

A Junta da Freguesia da Ericeira recolheu no mês passado mais de meia tonelada de rolhas de cortiça para reciclagem. O Verão está a ajudar, mas, mesmo assim, o presidente, António Mansura, diz que é um "bom resultado", face às 1,2 toneladas conseguidas entre 2005 e 2009. As rolhas vêm dos restaurantes e das casas particulares da zona e são entregues a um parceiro empresarial da Junta, o qual se encarrega da reciclagem.

A Oficina da Terra Crua faz a sua própria reciclagem, sem recurso a empresas especializadas. Selecciona as rolhas, tritura umas e deixa outras inteiras e usa-as nos seus projectos de construção ecológica. Com este método, já reciclou cerca de 25 toneladas de rolhas de cortiça, vindas de pontos de recolha distribuídos por vários municípios do Centro e Sul do país, instituições e casas particulares.

A Quercus promove a reciclagem de rolhas de cortiça como meio para a plantação de árvores autóctones, desde Junho de 2008. O projecto é conhecido por Green Cork e tem a parceria da Corticeira Amorim. Os dados oficiais dizem que recolheu, até Janeiro de 2009, 12 toneladas. A associação ambientalista actualiza os dados e diz que até Março passado, juntou 30 toneladas.

São casos como estes que ilustram a crescente adesão dos portugueses à segunda vida da rolha de cortiça, que acaba por "proteger a cortiça, proteger o sobrado e proteger a natureza", diz Vera Schmidberger, arquitecta e responsável pela Oficina da Terra Crua.

Não há, neste momento, dados estatísticos disponíveis que mostrem quantas toneladas de rolhas o país recicla anualmente, o que torna o exercício muito incerto. Contudo, quem está ligado à recuperação desta matéria-prima garante que Portugal é dos que mais reaproveitam e não se limita ao espaço português. Recebe rolhas de vários pontos do mundo, incluindo dos aeroportos dos Estados Unidos.

Há quatro anos, a Euronatura, uma organização não-governamental especializada em investigação e política ambiental, aderiu a um projecto europeu de promoção do reaproveitamento das rolhas de cortiça, que constitui hoje uma rara fonte disponível para avaliar a importância que os portugueses dão ao assunto.

Segundo o ranking de reciclagem, disponibilizado pela Euronatura e agregando as instituições com as quais possui acordos de investigação, verifica-se que os portugueses reciclaram para cima de 43 toneladas de rolhas de cortiça desde 2005. É um valor por defeito, não só porque não engloba todas as entidades que se dedicam a esta reciclagem no país, como os dados são referentes ainda a 2009.

A lista, publicada no site da Euronatura, é liderada por alemães e franceses, seguindo-se quatro entidades portuguesas: Oficina da Terra Crua SLA, a Quercus, a Associação Guias de Portugal e a Junta da Ericeira, o único organismo do poder local.

Apesar dos números e da aparente disponibilidade para dar um novo destino às rolhas de cortiça, os promotores precisam de sentir que são recompensados.

Até Março de 2009, e com o apoio da Quercus, a Junta da Ericeira entregou à Corticeira Amorim cerca de 1,2 toneladas de rolhas. Recentemente, mudou de parceiro. Mansura não revela a sua identidade, nem montantes nem razões, mas diz que, neste momento, a freguesia está a receber uma quantia "aceitável" por cada tonelada de rolhas que entrega.

A Oficina da Terra Crua, que tem uma rede de parceiros voluntários, compara o exemplo português com a Alemanha. Vera Schmidberger considera que o país "ainda está muito longe dos outros". "Na Alemanha usam-se outros serviços, há um voluntariado próprio. Por exemplo, um camião que vá fazer uma descarga, quando volta, não vem vazio, vem com rolhas", adianta Vera Schmidberger.